Caros
Sei que o tema do momento são o edital e as mudanças que se fizeram no CACD 2008. Os candidatos entram agora na reta final, os estudos se intensificam, e o pensamento se dirige ao Concurso. Sobra pouco tempo para falar ou pensar em algo que não sejam as provas que se aproximam. Não vou tratar, no entanto, do edital ou das mudanças em si, quando mais não fosse porque já foram amplamente discutidos pelo Maurício, que tem muito mais conhecimento do que eu sobre o assunto. Pretendo apenas, se me permitem, ingressar na onda das "retrospectivas" de fim de ano e tentar comentar alguns dos principais acontecimentos em política internacional de 2007. Espero que isso os ajude a reter na memória os assuntos mais recentes, que costumam ser cobrados na prova de Política Internacional. Não pretendo uma análise exaustiva; antes, apenas algumas pinceladas em forma de comentários pessoais. Como sempre, seus comentários e réplicas são mais do que bem-vindos.
Creio que 2007 foi um ano mais de continuidade do que de mudanças. O continuísmo, a bem da verdade, é impressionante nos principais temas contemporâneos de política internacional.
No Oriente Médio, pouco ou nada se avançou nas negociações para a solução do sexagenário conflito árabe-israelense, mas a Conferência de Annapolis, realizada sob patrocínio dos Estados Unidos e que envolveu um multilateralismo abrangente, talvez sem precedentes no tratamento da questão (até então restrita a grupos de países mais restritos), aponta para algumas esperanças futuras. Vale a pena lembrar a participação do Brasil, um dos únicos países em desenvolvimento fora da região do conflito a serem convidados para o evento. No Iraque e no Afeganistão, a ocupação liderada pelos Estados Unidos permanece, sem perspectivas de retirada das tropas americanas e aliadas dos dois países. Em relação à situação interna de ambos os países, a violência, o caos e, principalmente, a incerteza quanto ao futuro continuam dando o tom, a despeito de pequenos avanços, desproporcionalmente alardeados pelas forças da coalizão. Finalmente, no Irã permanece o impasse sobre a questão nuclear; a divulgação de um relatório da inteligência americana em novembro, que concluiu pela inexistência de um programa nuclear militar no país, resfriou, no entanto, os debates e deslocou o foco de Teerã.
Na Europa, a União Européia passou por mais um processo de alargamento, com a inclusão de Romênia e Bulgária e a extensão do Espaço Schengen para uma dezena de países; a crise de identidade da União permanece, mas os líderes europeus tentaram reviver o Tratado Constitucional, com a adoção de um tratado revisado em Lisboa; as negociações e os debates sobre a adesão da Turquia parecem, como sempre, intermináveis.
Na América, a política externa americana continua engessada pela "guerra contra o terror", e tenderá a permanecer assim até o final do governo George Walker Bush. Ano em que se inaugurou a corrida para a Casa Branca, 2007 não trouxe mudanças à diplomacia de Washington - algo que 2008, ano de eleições, tenderá a repetir. Mas prognósticos são sujeitos a erros...
Do lado de cá do Rio Grande, merece menção o espaço cada vez maior ocupado pela Venezuela na cena regional, tendência que se fortalecerá ainda mais com o envolvimento do presidente Hugo Chávez na libertação de três reféns pelas FARC, prometida para os próximos dias. Que se coloquem as coisas em seu devido lugar, no entanto: o fortalecimento de Chávez parece ser exagerado pela mídia, especialmente no Brasil. Mesmo sua política armamentista tem encontrado ecos que fazem parecer a situação muito maior do que ela realmente é. Destaquem-se ainda o avanço - lento ou não, isso pode-se discutir - da integração sul-americana, que acaba de fazer nascer mais uma instituição regional, o Banco do Sul, banco de fomento ao desenvolvimento à la Banco Mundial, com atuação restrita à América do Sul, bem como a situação em Cuba, que parece encaminhar-se para uma transição de poder que poderá trazer conseqüências muito maiores para a região do que a política interna e externa da Venezuela... Olho em Cuba!
Na África, seguem, infelizmente, os intermináveis conflitos que há décadas abalam o continente. Darfur é, de longe, a maior tragédia humana da atualidade, e pouco se fez para se tentar solucionar o conflito e deter o genocídio de dezenas de milhares de pessoas. Destaque-se positivamente a criação da UNMIS (United Nations Mission in Sudan), força híbrida Nações Unidas - União Africana, que envolve mais de 27.000 militares e civis, e que deverá iniciar suas operações no começo de 2008. Eritréia, Etiópia, Ruanda, República Democrática do Congo, Somália, entre tantos outros, continuam mergulhados em seus conflitos, acenando com pouco otimismo para quaisquer mudanças em 2008. A reconstrução e o crescimento de Angola e Moçambique são, por outro lado, fios de esperança que mostram ser possível superar décadas de conflito no continente com os olhos num futuro mais promissor.
Na Ásia, a China parece continuar sua marcha persistente rumo à condição de grande potência: mais um ano de crescimento espetacular e de maior envolvimento na política internacional, com destaque para a Cúpula Sino-Africana, que conseguiu reunir em Pequim todos os 53 chefes de Estado e/ou de Governo do continente africano. Conflitos continuam por várias partes do continente asiático, como no Nepal, no Sri Lanka, na Cashemira, no Tibet e em Myanmar - mesmo este não foi uma novidade, uma vez que as forças políticas e sociais em confronto já se enfrentaram várias vezes em décadas precedentes. Na península coreana, progressos foram feitos nas negociações para o desarmamento nuclear da Coréia do Norte, mas, ao que parece, Pyongyang continua a deter a bomba, e não dá mostras de alterar significativamente seu histórico curso de isolamento.
Finalmente, nas Nações Unidas permanecem sem avanços concretos as discussões e negociações sobre a necessidade de reforma da Organização, especialmente de seu Conselho de Segurança.
Evidentemente, muitas coisas ficaram de fora desse retrospecto. Os acontecimentos citados, no entanto, parecem suficientes para assinalar o impressionante continuísmo que marcou o ano de 2007 nas relações internacionais e na política mundial. Para não dizer, no entanto, que "não há nada de novo debaixo do sol", duas novidades merecem menção especial, não por serem novidades de per se (mesmo porque parecem ser culminâncias de dois processos que se arrastam há alguns anos, e não fatos inéditos que emergem inesperadamente), mas pelas conseqüências que podem trazer para a política internacional, tanto no curto quanto no longo prazos.
A primeira delas é o retorno da Rússia à cena internacional. Sob Vladimir Putin, eleito a personalidade do ano de 2007 pela Time Magazine, a Rússia alcançou um nível de estabilidade política, econômica e, como conseqüência, social que lhe permitiu retornar com atividade intensa ao palco da política das grandes potências, abandonando para trás as lembranças dos tumultuados anos 90. Este sucesso russo se apóia sobre a elevação exponencial dos preços do petróleo e do gás nos últimos anos, que permite à economia russa crescer a taxas superiores a 6-7% ao ano, bem como sobre um regime político autocrático, que logra a estabilidade política por meio da supressão de forças de oposição e do próprio debate democrático. Alavancada política e economicamente, a Rússia voltou definitivamente à cena internacional, como mostraram as intervenções - algumas delas veladas, outras nem tanto - em seus ex-satélites do período soviético (Estônia, Ucrânia, Bielorússia - com quem Moscou discute a formação de uma "federação"), a utilização das fontes de energia como instrumento de pressão sobre a Europa, a decisiva oposição à construção, pelos Estados Unidos, de um sistema de defesa antimísseis na Europa Oriental, a manutenção das relações de cooperação na área de defesa com o Irã, a participação nas negociações hexapartites sobre a questão norte-coreana, a denúncia do Tratado sobre Forças Convencionais na Europa, a aliança com a China no Grupo de Xangai, entre tantos outros episódios. A sucessão de Putin não será, a bem da verdade, uma verdadeira sucessão, uma vez que o candidato do Kremlin já afirmou que convidará Putin para ser primeiro-ministro, em caso de vitória nas eleições. Dessa forma, a Rússia deverá continuar sua ascensão política e diplomática, desejosa de restaurar sua posição na época áurea da União Soviética e apoiada em seu arsenal nuclear, no crescimento de sua economia e na manutenção da estabilidade interna.
A segunda mudança, mais óbvia do que é a primeira, acontece neste exato momento no Paquistão - desnecessário relembrar os fatos que parecem guiar o país para o caos. A situação nesse país é potencialmente explosiva por três motivos fundamentais: Islamabad é aliada-chave de Washington na "guerra ao terror"; o país detém armas nucleares, que poderiam, em tese, sair do controle do governo e cair em mãos de outros grupos políticos e, mesmo, de extremistas; o conflito no país pode-se espraiar para a Índia, o que poderia levar as duas nações a travar a quarta guerra em seis décadas. Além de adicionar um elemento de enorme incerteza e de conflito a uma região historicamente instável, a situação paquistanesa representa um duro golpe à estratégia americana de combate ao terrorismo exatamente na região em que supostamente se concentram os esforços dos Estados Unidos para debelar o Taleban e a Al-Qaeda. Confiando na força militar para o combate ao terror, os Estados Unidos "terceirizaram", por assim dizer, parte dos esforços miliatres na região ao Paquistão, com o qual não poderão mais contar caso o país mergulhe na guerra civil ou conduza ao poder grupos políticos anti-americanos. Os acontecimentos das próximas semanas serão cruciais para uma possível redefinição da estratégia americana, e a escolha que fizer Washington terá sérias conseqüência não apenas para a região, mas também para o mundo. A ausência de escolha e a paralisia, por outro lado, poderão ensejar o aumento do poder dos extremistas e terroristas que sabidamente buscam refúgio na região montanhosa da fronteira afegã-paquistanesa. Pode parecer exagero, mas, neste momento, o Paquistão está no centro do mundo.
O exercício de olhar para o passado é imensamente mais fácil do que o de tentar desvendar o futuro - ainda assim, tenho certeza de que neste exercício há omissões e, mesmo, falhas - oxalá desculpáveis e irrelevantes. Espero, entretanto, que tenha sido válido para ajudá-los em seus estudos.
Como últimas palavras, desejo a todos os leitores um feliz 2008!
domingo, 30 de dezembro de 2007
sábado, 29 de dezembro de 2007
COMENTÁRIOS SOBRE O EDITAL DO CACD 2008
O CACD 2008 veio cheio de suspresas. Embora essa frase pareça anúncio publicitário, é a que melhor reflete a verdade. Todas as etapas têm uma novidade, mais ou menos radical, e, no geral, o concurso mudou drasticamente, na minha modesta opinião. A partir de agora, não é mais possível fazer prognósticos, mas é possível conjecturar, que é o objetivo deste texto.
TPS
A única mudança formal no TPS 2008 foi a inclusão de geografia, direito e economia. Foram mantidas as 65 questões e a mistura de itens e de questões de alternativa múltipla. A aparência de continuidade, entretanto, é falsa.
Com 7 matérias em vez de 4 no TPS, certamente alguma das antigas matérias deve perder peso relativo na prova ou, quem sabe, aumentar seu peso relativo. Certamente a prova terá menos itens de história e de PI, mas qual será o peso das matérias que retornam ao TPS? Não se sabe...
Qualquer coisa pode acontecer. O estudo fica muito mais difícil, pois o CACD tem um programa imenso e qualquer tema, qualquer um, pode cair ou não na prova.
Qual será o grau de aprofundamento, qual será o nível de exigência em cada matéria, qual matéria vai pesar mais? Tenho mais perguntas do que respostas, mas faço uma aposta: português manterá seu peso relativo ou pode aumentá-lo, se preservar os 20 pontos dos últimos dois concursos. Eu aposto na manutenção de português como matéria de maior peso relativo.
SEGUNDA FASE
Felizmente, não houve mudanças drásticas nesta etapa. Manteve-se a prova em data posterior ao TPS, mantiveram-se as questões de interpretação e manteve-se a indicação de bibliografia obrigatória.
As mudanças na bibliografia foram muito boas. A inclusão de Drumond a entrada de São Bernardo, no lugar de Memórias do Cárcere, são bem vindas. A inclusão de Visão do Paraíso é interessantíssima para que os candidatos conheçam mais sobre os clássicos do pensamento brasileiro.
As leituras serão ótimas, acreditem. Pra quem não tiver tempo ou não se arriscar, vou resenhar cada uma das obras aqui no blog até dia 30 de março.
TERCEIRA FASE
É nesta fase que estão as mudanças mais drásticas, que deixam o resultado final imprevisível. A redução de 5 para quatro questões na prova discursiva é o inferno para o candidato (quem já passou por isso sabe como é). Qualquer tema pode ser selecionado, qualquer um, dentro do programa imenso do concurso. Se cair uma questão sobre a qual você não tenha mínima idéia da resposta, o que sempre acontece, o dano causado por um provável mal desempenho será muito maior. Para piorar, haverá 2 questões de 30 pontos e 2 de 20 pontos. E se a questão complicada for de 30 pontos?
A prova de inglês teve retirados o resumo e os exercícios textuais. Apenas redação, tradução e versão permanecem, com pontuações de respectivamente 50, 25 e 25 pontos. A prova exigirá muito mais de gramática e menos de "sorte". Acredito que a média da prova deva subir e que se torne mais difícil zerar a parte de gramática da redação (aposto num aumento de 20 para 25 pontos de gramática) e, assim, a redação inteira.
A mudança que mais me surpreendeu, entretanto, foi a redução da nota mínima nesta etapa. No CACD 2008 será aprovado na terceira fase o candidato que obtiver 300 pontos de 600 pontos, ou seja, 50%! Foram-se por água abaixo os 60% dos últimos dois concursos. Pode parecer que ficou mais fácil, mas associadas às outras mudanças me parece que a redução percentagem indica que as bancas serão muito mais exigentes na correção.
Meus caros, o momento é de estudar até os olhos sangrarem e o cérebro derreter. A redução de questões vai exigir dos candidatos conhecimento amplo de todas as matérias e capacidade de relacionar tais conhecimentos de forma muito precisa.
QUARTA FASE
Todos acham que não fará diferença, mas fará. A classificação final no concurso vai contar na escolha dos seus estágios na SERE, na sua primeira gratificação por desempenho, na sua futura lotação e, mais importante de tudo, na primeira promoção. Não esqueçam: a ordem de classificação é a ordem de antiguidade. Escolham bem a segunda língua e procurem ter um excelente desempenho, pode fazer toda a diferença para o seu futuro nos próximos 3 ou 4 anos.
Bons estudos, meu caros.
TPS
A única mudança formal no TPS 2008 foi a inclusão de geografia, direito e economia. Foram mantidas as 65 questões e a mistura de itens e de questões de alternativa múltipla. A aparência de continuidade, entretanto, é falsa.
Com 7 matérias em vez de 4 no TPS, certamente alguma das antigas matérias deve perder peso relativo na prova ou, quem sabe, aumentar seu peso relativo. Certamente a prova terá menos itens de história e de PI, mas qual será o peso das matérias que retornam ao TPS? Não se sabe...
Qualquer coisa pode acontecer. O estudo fica muito mais difícil, pois o CACD tem um programa imenso e qualquer tema, qualquer um, pode cair ou não na prova.
Qual será o grau de aprofundamento, qual será o nível de exigência em cada matéria, qual matéria vai pesar mais? Tenho mais perguntas do que respostas, mas faço uma aposta: português manterá seu peso relativo ou pode aumentá-lo, se preservar os 20 pontos dos últimos dois concursos. Eu aposto na manutenção de português como matéria de maior peso relativo.
SEGUNDA FASE
Felizmente, não houve mudanças drásticas nesta etapa. Manteve-se a prova em data posterior ao TPS, mantiveram-se as questões de interpretação e manteve-se a indicação de bibliografia obrigatória.
As mudanças na bibliografia foram muito boas. A inclusão de Drumond a entrada de São Bernardo, no lugar de Memórias do Cárcere, são bem vindas. A inclusão de Visão do Paraíso é interessantíssima para que os candidatos conheçam mais sobre os clássicos do pensamento brasileiro.
As leituras serão ótimas, acreditem. Pra quem não tiver tempo ou não se arriscar, vou resenhar cada uma das obras aqui no blog até dia 30 de março.
TERCEIRA FASE
É nesta fase que estão as mudanças mais drásticas, que deixam o resultado final imprevisível. A redução de 5 para quatro questões na prova discursiva é o inferno para o candidato (quem já passou por isso sabe como é). Qualquer tema pode ser selecionado, qualquer um, dentro do programa imenso do concurso. Se cair uma questão sobre a qual você não tenha mínima idéia da resposta, o que sempre acontece, o dano causado por um provável mal desempenho será muito maior. Para piorar, haverá 2 questões de 30 pontos e 2 de 20 pontos. E se a questão complicada for de 30 pontos?
A prova de inglês teve retirados o resumo e os exercícios textuais. Apenas redação, tradução e versão permanecem, com pontuações de respectivamente 50, 25 e 25 pontos. A prova exigirá muito mais de gramática e menos de "sorte". Acredito que a média da prova deva subir e que se torne mais difícil zerar a parte de gramática da redação (aposto num aumento de 20 para 25 pontos de gramática) e, assim, a redação inteira.
A mudança que mais me surpreendeu, entretanto, foi a redução da nota mínima nesta etapa. No CACD 2008 será aprovado na terceira fase o candidato que obtiver 300 pontos de 600 pontos, ou seja, 50%! Foram-se por água abaixo os 60% dos últimos dois concursos. Pode parecer que ficou mais fácil, mas associadas às outras mudanças me parece que a redução percentagem indica que as bancas serão muito mais exigentes na correção.
Meus caros, o momento é de estudar até os olhos sangrarem e o cérebro derreter. A redução de questões vai exigir dos candidatos conhecimento amplo de todas as matérias e capacidade de relacionar tais conhecimentos de forma muito precisa.
QUARTA FASE
Todos acham que não fará diferença, mas fará. A classificação final no concurso vai contar na escolha dos seus estágios na SERE, na sua primeira gratificação por desempenho, na sua futura lotação e, mais importante de tudo, na primeira promoção. Não esqueçam: a ordem de classificação é a ordem de antiguidade. Escolham bem a segunda língua e procurem ter um excelente desempenho, pode fazer toda a diferença para o seu futuro nos próximos 3 ou 4 anos.
Bons estudos, meu caros.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
DICAS PARA GEOGRAFIA, DIREITO E ECONOMIA NO TPS
Estou de volta, finalmente, após o duríssimo período de provas no IRBr. Para não perder tempo e não fazer suspense, completarei a série de textos sobre as matérias do TPS com um texto único, que discute as três matérias que foram incluídas na primeira etapa. Como diria Jack, o estripador, vamos por partes.
GEOGRAFIA
A prova de geografia do TPS é bastante previsível. As provas do CESPE restringem-se à bibliografia indicada, cobram conceitos previsíveis (o que não significa que sejam fáceis) e se dedicam muito à parte histórica da geografia e à política de limites. Para o TPS, acredito que há cinco leituras que podem garantir o gabarito da prova, respectivamente:
Projeto de Ensino de Geografia(Geral e do Brasil)-Regina Araújo e Demétrio Magnoli: não existe nenhum livro mais conciso, completo e fácil de ler. As edições são atualizadas, os dados exatos e o livro é abrangente. Todos os conceitos, todos os temas, todos os pontos do programa estão lá. Leitura imprescindível até mesmo para a terceira fase!
Por uma outra Globalização-Milton Santos: não é um leitura agradável em termos de sintaxe(rsrs). Também acredito que muitos de vocês não concordarão com os pressupostos do autor, mas não querem saber se concordamos ou não! Os conceitos apresentados neste livro foram cobrados em todos os TPS's em que geografia estava presente. Imprescindível.
Brasil, Território e Sociedade no Limiar do Século XXI-Milton Santos e Maria Laura Silveira: os quatro primeiros capítulos são fundamentais, pois neles se desenvolvem os debates sobre o meio natural, o meio técnico, o meio técnico-científico e o meio técnico-científico-informacional. Esses são conceitos fundamentais, não sabe-los é "morte certa".
O Corpo da Pátria-Demétrio Magnoli(introdução, último capítulo e conclusão): não existe nenhum livro melhor para política de limites. O autor "disseca" todos os tratados de fronteira do Brasil, um a um, com todos os países, nos mínimos detalhes, com datas e textos. Imprescindível.
DIREITO
Eu acredito que seja a matéria mais difícil de se estudar para uma prova objetiva. As doutrinas são contraditórias e a própria bibliografia é contraditória. O maior cuidado necessário é saber que NÃO É UMA PROVA DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO APENAS, mas também de DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. O ponto positivo é que há muitas provas do CESPE, em que tais tópicos são cobrados, disponíveis no site. O melhor a fazer é resolver exercícios, tirar as dúvidas e se adequar ao padrão da banca, como se deve fazer para a prova de português. Indicarei algumas leituras básicas que podem viabilizar e resolver maiores problemas para a prova(utilizei todos os livros que indicarei em concursos do CESPE e deu certo, passei em todos).
Direito Internacional público: curso elementar-Francisco Rezek: o manual está atualizado, é viável de ser lido em pouco tempo, é excelente em direito dos tratados e dá uma boa visão dos outros pontos do programa. Foi o responsável pelos meus 73 em direito na terceira fase de 2007!
Curso de Direito Constitucional Positivo-José Afonso da Silva: é um manual grande, mas muito didático e fácil de ler. O ideal é se concentrar nos tópicos recorrentes: controle de constitucionalidade, competências constitucionais e processo legislativo, por exemplo.
Direito Administrativo- Maria Sylvia Di Pietro: excelente manual, claro, objetivo e relativamente conciso. Resolve todos os problemas com este tópico do programa, que certamente aparecerá no TPS.
Lei de Introdução ao Códgio Civil: direito internacional privado e cooperação judiciária são temas que fazem parte das preocupações acadêmicas da banca da terceira fase (meus professores) e não me surpreenderia que aparecessem no TPS. É melhor estudar, nunca se sabe...
PS:temas jurídicos da integração regional têm alta probabilidade de aparecerem na prova...
ECONOMIA
Esta prova vai ser a mais difícil, tenham certeza disso. A prova será analítica do ponto de vista crítico e matemático. Podem ter certeza de que será necessário avaliar itens que se refiram a um gráfico ou a uma tabela, que incluirão desde avaliações de relação entre os dados com o método econômico até equações(as básicas, que constam de qualquer manual). A concepção da prova de economia mudou com a nova banca. Vamos às leituras recomendadas.
Introdução à Economia: princípios de micro e macro economia-Mankiw: um manual de economia "for dummies". De acordo com nosso professor, membro da banca da terceira fase, tem tudo de básico que é preciso saber sobre economia. Decorem-no, inclusive as equações(não estou exagerando);
Formação econômica do Brasil-Celso Furtado: dispensa apresentações. Aposto cinco reais que vai aparecer no TPS. É clássico da história econômica do Brasil;
A Ordem do Progresso: 100 anos de política econômica republicana-M. P. Abreu: indiscutivelmente um dos melhores livros sobre a história econômica de todos os governos republicanos. Cada plano é discutido em detalhe. Leiam! Se não o lerem todo, leiam pelo menos os capítulos sobre as política econômica dos últimos 50 anos;
Economia Brasileira Contemporânea-Amaury Gremaud e outros: este livro é muito bom. É simples, objetivo, de fácil leitura e ajuda MUITO, inclusive em história econômica. Diria que é uma boa primeira leitura que facilita a assimilação dos temas mais complexos dos manuais seguintes.
Espero ter ajudado, meu caros. O Diálogo Diplomático segue cumprindo seu compromisso de auxiliar os candidatos de todos o Brasil, principalmente os que estão fora dos grandes centros de preparação. Em janeiro e fevereiro disponibilizaremos mais material no grupo de e-mails, bem como publicaremos textos voltados para programa do concurso. Abraço a todos e bons estudos!
GEOGRAFIA
A prova de geografia do TPS é bastante previsível. As provas do CESPE restringem-se à bibliografia indicada, cobram conceitos previsíveis (o que não significa que sejam fáceis) e se dedicam muito à parte histórica da geografia e à política de limites. Para o TPS, acredito que há cinco leituras que podem garantir o gabarito da prova, respectivamente:
Projeto de Ensino de Geografia(Geral e do Brasil)-Regina Araújo e Demétrio Magnoli: não existe nenhum livro mais conciso, completo e fácil de ler. As edições são atualizadas, os dados exatos e o livro é abrangente. Todos os conceitos, todos os temas, todos os pontos do programa estão lá. Leitura imprescindível até mesmo para a terceira fase!
Por uma outra Globalização-Milton Santos: não é um leitura agradável em termos de sintaxe(rsrs). Também acredito que muitos de vocês não concordarão com os pressupostos do autor, mas não querem saber se concordamos ou não! Os conceitos apresentados neste livro foram cobrados em todos os TPS's em que geografia estava presente. Imprescindível.
Brasil, Território e Sociedade no Limiar do Século XXI-Milton Santos e Maria Laura Silveira: os quatro primeiros capítulos são fundamentais, pois neles se desenvolvem os debates sobre o meio natural, o meio técnico, o meio técnico-científico e o meio técnico-científico-informacional. Esses são conceitos fundamentais, não sabe-los é "morte certa".
O Corpo da Pátria-Demétrio Magnoli(introdução, último capítulo e conclusão): não existe nenhum livro melhor para política de limites. O autor "disseca" todos os tratados de fronteira do Brasil, um a um, com todos os países, nos mínimos detalhes, com datas e textos. Imprescindível.
DIREITO
Eu acredito que seja a matéria mais difícil de se estudar para uma prova objetiva. As doutrinas são contraditórias e a própria bibliografia é contraditória. O maior cuidado necessário é saber que NÃO É UMA PROVA DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO APENAS, mas também de DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. O ponto positivo é que há muitas provas do CESPE, em que tais tópicos são cobrados, disponíveis no site. O melhor a fazer é resolver exercícios, tirar as dúvidas e se adequar ao padrão da banca, como se deve fazer para a prova de português. Indicarei algumas leituras básicas que podem viabilizar e resolver maiores problemas para a prova(utilizei todos os livros que indicarei em concursos do CESPE e deu certo, passei em todos).
Direito Internacional público: curso elementar-Francisco Rezek: o manual está atualizado, é viável de ser lido em pouco tempo, é excelente em direito dos tratados e dá uma boa visão dos outros pontos do programa. Foi o responsável pelos meus 73 em direito na terceira fase de 2007!
Curso de Direito Constitucional Positivo-José Afonso da Silva: é um manual grande, mas muito didático e fácil de ler. O ideal é se concentrar nos tópicos recorrentes: controle de constitucionalidade, competências constitucionais e processo legislativo, por exemplo.
Direito Administrativo- Maria Sylvia Di Pietro: excelente manual, claro, objetivo e relativamente conciso. Resolve todos os problemas com este tópico do programa, que certamente aparecerá no TPS.
Lei de Introdução ao Códgio Civil: direito internacional privado e cooperação judiciária são temas que fazem parte das preocupações acadêmicas da banca da terceira fase (meus professores) e não me surpreenderia que aparecessem no TPS. É melhor estudar, nunca se sabe...
PS:temas jurídicos da integração regional têm alta probabilidade de aparecerem na prova...
ECONOMIA
Esta prova vai ser a mais difícil, tenham certeza disso. A prova será analítica do ponto de vista crítico e matemático. Podem ter certeza de que será necessário avaliar itens que se refiram a um gráfico ou a uma tabela, que incluirão desde avaliações de relação entre os dados com o método econômico até equações(as básicas, que constam de qualquer manual). A concepção da prova de economia mudou com a nova banca. Vamos às leituras recomendadas.
Introdução à Economia: princípios de micro e macro economia-Mankiw: um manual de economia "for dummies". De acordo com nosso professor, membro da banca da terceira fase, tem tudo de básico que é preciso saber sobre economia. Decorem-no, inclusive as equações(não estou exagerando);
Formação econômica do Brasil-Celso Furtado: dispensa apresentações. Aposto cinco reais que vai aparecer no TPS. É clássico da história econômica do Brasil;
A Ordem do Progresso: 100 anos de política econômica republicana-M. P. Abreu: indiscutivelmente um dos melhores livros sobre a história econômica de todos os governos republicanos. Cada plano é discutido em detalhe. Leiam! Se não o lerem todo, leiam pelo menos os capítulos sobre as política econômica dos últimos 50 anos;
Economia Brasileira Contemporânea-Amaury Gremaud e outros: este livro é muito bom. É simples, objetivo, de fácil leitura e ajuda MUITO, inclusive em história econômica. Diria que é uma boa primeira leitura que facilita a assimilação dos temas mais complexos dos manuais seguintes.
Espero ter ajudado, meu caros. O Diálogo Diplomático segue cumprindo seu compromisso de auxiliar os candidatos de todos o Brasil, principalmente os que estão fora dos grandes centros de preparação. Em janeiro e fevereiro disponibilizaremos mais material no grupo de e-mails, bem como publicaremos textos voltados para programa do concurso. Abraço a todos e bons estudos!
sábado, 8 de dezembro de 2007
O G-20
A concepção do G-20 tem sido apontada como um dos grandes sucessos da Diplomacia brasileira nos últimos anos. Iniciativa ousada e inédita, o G-20, em pouco mais de quatro anos de existência, consolidou-se como ator fundamental no âmbito da OMC, até há poucos anos um foro dominado pelos grandes da economia global, Estados Unidos e União Européia. Mas em que se fundamenta o sucesso do G-20? Quais os resultados concretos que logrou, visto que a Rodada Doha permanece longe de uma conclusão bem-sucedida? Não foi o G-20 apenas uma forma de bloquear o andamento da negociação, como apontam seus críticos? Serão essas as perguntas a que se tentará responder neste texto.
O G-20 foi criado em 20 de agosto de 2003, por ocasião das reuniões preparatórias para a V Conferência Ministerial da OMC, em Cancún, México. Idealizado pelo Brasil, tinha como objetivo principal e momentâneo evitar que se alcançasse um resultado pré-concebido e concertado pelos Estados Unidos e a União Européia. Propunha que a Agenda Doha para o Desenvolvimento (ADD) fosse integralmente cumprida, tal como estabelecido no encontro da OMC na capital do Qatar, em 2001, quando se lançou a atual rodada de negociações. O pressuposto da ação do G-20 era que as negociações comerciais tinham de avançar em estrita observância do objetivo de promover o desenvolvimento, e dever-se-ia manter, como conseqüência, o nível de ambição previsto pela ADD.
Os países que formaram o G-20 entendiam que qualquer avanço na liberalização do comércio internacional deveria levar em consideração o tema da agricultura, bem como a utilização do comércio para a promoção do desenvolvimento sócio-econômico dos países menos desenvolvidos. A posição comum do G-20 se sustentava - e ainda se sustenta - em três pilares: acesso aos mercados agrícolas dos países desenvolvidos; eliminação de todas as formas de subsídio à exportação agrícola dos países desenvolvidos; e tratamento diferenciado e especial aos países em desenvolvimento.
Em Cancún, o G-20 teve de resistir a pressões que tentavam desqualificar sua atuação como negativa e obstruidora do progresso das negociações. De fato, foi graças ao G-20 que não se alcançou um acordo em Cancún. O acordo que se previa, no entanto, fora elaborado totalmente à revelia dos países em desenvolvimento.
O G-20 foi, entretanto, muito além da obstrução da Ministerial de Cancún. O Grupo apresentou uma proposta efetiva, à consideração de todos os membros da OMC, que defendia, na área agrícola: 1) uma redução expressiva de todas as formas de apoio doméstico à produção nos países desenvolvidos (subsídios à produção); 2) a eliminação de todas as formas de apoio à exportação dos países desenvolvidos (susbsídios à exportação); 3) uma redução expressiva das barreiras ao comércio de bens agrícolas vigentes nos países desenvolvidos; 4) a concessão de uma forma de tratamento diferenciado e especial aos países em desenvolvimento, com o intuito de fortalecer-lhes a competitividade comercial global.
O G-2o é, pois, uma iniciativa política propositiva, e não obstrutiva, conforme tachado por seus detratores. O Grupo tem insistentemente apresentado propostas para fazer avançar as negociações da Rodada Doha. O impasse na Rodada deve-se não à atuação do G-20, mas à dificuldade de conciliar posições entre o Grupo e os dois outros grandes atores da OMC, os Estados Unidos e a União Européia. Vale dizer que a Rodada já teria chegado a uma conclusão, exitosa, porém, apenas para os países desenvolvidos, na medida em que desconsideraria os interesses e reivindicações dos países em desenvolvimento.
A história do GATT/OMC é exemplar de como as rodadas de negociações foram sempre conduzidas para a promoção dos interesses dos países desenvolvidos. No âmbito do GATT, foram realizadas oito rodadas de liberalização comercial, de 1947 a 1994 (Genebra, Annecy, Torquay, Genebra, Dillon, Kennedy, Tóquio, Uruguai). É só a partir do final dos anos 70, já na Rodada Tóquio, que os interesses dos países em desenvolvimento começam a ser gradualmente levados em consideração. Basta dizer, por exemplo, que agricultura - setor econômico de fundamental importância para os países em desenvolvimento - foi negligenciado pelo GATT, e só viria a fazer parte efetivamente da agenda do comércio internacional a partir de 1994, com a conclusão da Rodada Uruguai e a criação da OMC. O Acordo sobre Agricultura da Rodada Uruguai previa que as negociações agrícolas começariam em 1999. Dois anos mais tarde, o lançamento da Rodada Doha encampou o tema da agricultura. O sistema GATT/OMC levou meio século para considerar assunto de tamanha relevância para os países em desenvolvimento.
Isso torna a atuação do G-20 ainda mais notável, na medida em que o Grupo conseguiu trazer para o centro das negociações o tema agrícola e, por extensão, os interesses dos países em desenvolvimento. Representando 60% da população mundial, 70% da população rural mundial e 27% das exportações agrícolas mundiais, o G-20 tem legitimidade inquestionável para defender os interesses e objetivos do mundo em desenvolvimento. Sua habilidade de traduzir uma vasta gama de interesses do Sul global em propostas e ações concretas é também garantida por sua formação diversificada, uma vez que conta entre seus membros com grandes e pequenos países de três continentes. Na atualidade, o G-20 conta com 23 Estados membros: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba, Egito, Equador, Filipinas, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai, Peru, Tailândia, Tanzânia, Uruguai, Venezuela e Zimbábue.
O G-20 é um inegável sucesso de concepção e ação da Diplomacia brasileira. Embora a Rodada Doha permaneça em um ponto morto, as negociações passaram a contemplar as posições e visões do mundo em desenvolvimento. Reconhecendo-se que o objetivo da Rodada Doha - chamada, aliás, de Rodada para o Desenvolvimento - é fazer do comércio um instrumento do desenvolvimento sócio-econômico, é fundamental que os países do Sul global se articulem na promoção de uma ação que impeça a repetição da história e faça desta rodada de negociações um êxito também para o mundo em desenvolvimento.
Para maiores informações, vale a pena uma visita nos sites da OMC (www.wto.org) e do G-20 (www.g-20.mre.gov.br).
O G-20 foi criado em 20 de agosto de 2003, por ocasião das reuniões preparatórias para a V Conferência Ministerial da OMC, em Cancún, México. Idealizado pelo Brasil, tinha como objetivo principal e momentâneo evitar que se alcançasse um resultado pré-concebido e concertado pelos Estados Unidos e a União Européia. Propunha que a Agenda Doha para o Desenvolvimento (ADD) fosse integralmente cumprida, tal como estabelecido no encontro da OMC na capital do Qatar, em 2001, quando se lançou a atual rodada de negociações. O pressuposto da ação do G-20 era que as negociações comerciais tinham de avançar em estrita observância do objetivo de promover o desenvolvimento, e dever-se-ia manter, como conseqüência, o nível de ambição previsto pela ADD.
Os países que formaram o G-20 entendiam que qualquer avanço na liberalização do comércio internacional deveria levar em consideração o tema da agricultura, bem como a utilização do comércio para a promoção do desenvolvimento sócio-econômico dos países menos desenvolvidos. A posição comum do G-20 se sustentava - e ainda se sustenta - em três pilares: acesso aos mercados agrícolas dos países desenvolvidos; eliminação de todas as formas de subsídio à exportação agrícola dos países desenvolvidos; e tratamento diferenciado e especial aos países em desenvolvimento.
Em Cancún, o G-20 teve de resistir a pressões que tentavam desqualificar sua atuação como negativa e obstruidora do progresso das negociações. De fato, foi graças ao G-20 que não se alcançou um acordo em Cancún. O acordo que se previa, no entanto, fora elaborado totalmente à revelia dos países em desenvolvimento.
O G-20 foi, entretanto, muito além da obstrução da Ministerial de Cancún. O Grupo apresentou uma proposta efetiva, à consideração de todos os membros da OMC, que defendia, na área agrícola: 1) uma redução expressiva de todas as formas de apoio doméstico à produção nos países desenvolvidos (subsídios à produção); 2) a eliminação de todas as formas de apoio à exportação dos países desenvolvidos (susbsídios à exportação); 3) uma redução expressiva das barreiras ao comércio de bens agrícolas vigentes nos países desenvolvidos; 4) a concessão de uma forma de tratamento diferenciado e especial aos países em desenvolvimento, com o intuito de fortalecer-lhes a competitividade comercial global.
O G-2o é, pois, uma iniciativa política propositiva, e não obstrutiva, conforme tachado por seus detratores. O Grupo tem insistentemente apresentado propostas para fazer avançar as negociações da Rodada Doha. O impasse na Rodada deve-se não à atuação do G-20, mas à dificuldade de conciliar posições entre o Grupo e os dois outros grandes atores da OMC, os Estados Unidos e a União Européia. Vale dizer que a Rodada já teria chegado a uma conclusão, exitosa, porém, apenas para os países desenvolvidos, na medida em que desconsideraria os interesses e reivindicações dos países em desenvolvimento.
A história do GATT/OMC é exemplar de como as rodadas de negociações foram sempre conduzidas para a promoção dos interesses dos países desenvolvidos. No âmbito do GATT, foram realizadas oito rodadas de liberalização comercial, de 1947 a 1994 (Genebra, Annecy, Torquay, Genebra, Dillon, Kennedy, Tóquio, Uruguai). É só a partir do final dos anos 70, já na Rodada Tóquio, que os interesses dos países em desenvolvimento começam a ser gradualmente levados em consideração. Basta dizer, por exemplo, que agricultura - setor econômico de fundamental importância para os países em desenvolvimento - foi negligenciado pelo GATT, e só viria a fazer parte efetivamente da agenda do comércio internacional a partir de 1994, com a conclusão da Rodada Uruguai e a criação da OMC. O Acordo sobre Agricultura da Rodada Uruguai previa que as negociações agrícolas começariam em 1999. Dois anos mais tarde, o lançamento da Rodada Doha encampou o tema da agricultura. O sistema GATT/OMC levou meio século para considerar assunto de tamanha relevância para os países em desenvolvimento.
Isso torna a atuação do G-20 ainda mais notável, na medida em que o Grupo conseguiu trazer para o centro das negociações o tema agrícola e, por extensão, os interesses dos países em desenvolvimento. Representando 60% da população mundial, 70% da população rural mundial e 27% das exportações agrícolas mundiais, o G-20 tem legitimidade inquestionável para defender os interesses e objetivos do mundo em desenvolvimento. Sua habilidade de traduzir uma vasta gama de interesses do Sul global em propostas e ações concretas é também garantida por sua formação diversificada, uma vez que conta entre seus membros com grandes e pequenos países de três continentes. Na atualidade, o G-20 conta com 23 Estados membros: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba, Egito, Equador, Filipinas, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai, Peru, Tailândia, Tanzânia, Uruguai, Venezuela e Zimbábue.
O G-20 é um inegável sucesso de concepção e ação da Diplomacia brasileira. Embora a Rodada Doha permaneça em um ponto morto, as negociações passaram a contemplar as posições e visões do mundo em desenvolvimento. Reconhecendo-se que o objetivo da Rodada Doha - chamada, aliás, de Rodada para o Desenvolvimento - é fazer do comércio um instrumento do desenvolvimento sócio-econômico, é fundamental que os países do Sul global se articulem na promoção de uma ação que impeça a repetição da história e faça desta rodada de negociações um êxito também para o mundo em desenvolvimento.
Para maiores informações, vale a pena uma visita nos sites da OMC (www.wto.org) e do G-20 (www.g-20.mre.gov.br).
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
COMENTÁRIOS SOBRE AS MUDANÇAS NO CACD 2008
Num dos primeiros textos publicados neste blog, alertei para o fato de que, baseado nos últimos sete concursos, a única certeza sobre o CACD era a mudança. Não se poderia afirmar, entretanto, qual a dimensão de tais mudanças. Uma preparação abrangente, que possibilitasse ao candidato preparar-se em todas as disciplinas do programa seria a estratégia mais recomendável, uma vez que o desconhecimento quanto às matérias que comporiam o TPS 2008 não permitia concentrar-se apenas naquelas que compuseram o TPS 2007. Passaram-se três meses e anunciou-se a volta de todas as disciplinas do concurso ao TPS, além da criação de uma quarta fase, apenas classificatória, na qual sete línguas estrangeiras são oferecidas com alternativas aos candidatos. Foram mudanças significativas, mas não foram inesperadas para aqueles que estiveram atentos aos debates realizados nos mais diversos fóruns.
A partir de agora, milhares de candidatos espalhados por todo o país serão obrigados a modificar a sua estratégia. Aqueles que abandonaram o estudos de direito, economia e geografia durante o ano têm uma desvantagem relativa aos demais. O acúmulo de leituras atrasadas, o cumprimento do programa das disciplinas e. em alguns casos mais graves, o completo desconhecimento de algumas disciplinas serão obstáculos a serem transpostos com dificuldade. Modificou-se toda a estrutura de competitividade do CACD 2008.
Não se sabe qual será a nova estrutura do TPS. Pode-se, pelo menos, fazer algumas observações baseadas nos TPS's de 2003/2 e 2004, que contavam com todas as matérias e também foram realizados pelo CESPE. Primeiro, o número de questões do TPS deve aumentar. Sessenta e cinco questões são pouco para um programa tão amplo (em 2003 e 2004 o TPS contou com 100 questões).Segundo, o grau profundidade das questões deve ser menor. A presença de todas as matérias não permitirá um aprofundamento maior, já que para tanto seria necessário um número de questões significativo. Ao contrário do que possa parecer, a redução do grau de aprofundamento tende a aumentar a dificuldade da prova! Menos questões relativas a um programa imenso podem transformar a prova numa loteria, pois qualquer ponto do programa pode aparecer, ou não, e é dificílimo saber no que se concentrar(sem considerar o fato de que uma questão desperdiçada pode deixar o candidato mais um ano na fila). Terceiro, a prova de português terá mantida sua proporção e importância. Nos dois últimos anos(não apenas nos últimos dois anos), português teve 30% de proporção na pontuação total do TPS e não há indícios de que sua importância será reduzida. Com o aumento do número disciplinas, português se torna disciplina ainda mais estratégica para estabelecer a diferença entre os candidatos. Por último, história e política internacional devem reduzir sua participação relativa na prova, o que pode dificultar excessivamente a identificação dos pontos nos quais se concentrar. Qualquer tentativa de não cobrir o programa completo das disciplinas tem grandes chances de resultar em desastre.
Somente a publicação do edital do CACD 2008 permitirá que os candidatos possam, de alguma forma, elaborar uma estratégia pragmática e racional. Até lá, mais uma vez, reforço que é necessário estudar tudo de tudo, o maior tempo possível, com o maior esforço e sacrifício possíveis para que não sejam mais uma vez surpreendidos. Não se sabe absolutamente nada sobre a estrutura do próximo concurso além do que foi estabelecido pela portaria do Ministro de Estado e, diante das circunstâncias, mais uma vez recomendo que os candidatos não esperem que estruturas sejam mantidas ou repetidas no próximo CACD.
Por fim, o Diálogo Diplomático não se furtará da colaboração com os candidatos, principalmente aqueles que estão distantes dos grandes centros. No próximos dias, completaremos a série "dicas para o TPS" com geografia, economia e direito. Aos interessados, textos, artigos e todo o tipo de material serão disponibilizados no grupo de e-mails do blog, além dos que já estão.
Para inscrever-se: dialogodiplomatico-subscribe@yahoogrupos.com.br
Boa sorte a todos e bons estudos.
A partir de agora, milhares de candidatos espalhados por todo o país serão obrigados a modificar a sua estratégia. Aqueles que abandonaram o estudos de direito, economia e geografia durante o ano têm uma desvantagem relativa aos demais. O acúmulo de leituras atrasadas, o cumprimento do programa das disciplinas e. em alguns casos mais graves, o completo desconhecimento de algumas disciplinas serão obstáculos a serem transpostos com dificuldade. Modificou-se toda a estrutura de competitividade do CACD 2008.
Não se sabe qual será a nova estrutura do TPS. Pode-se, pelo menos, fazer algumas observações baseadas nos TPS's de 2003/2 e 2004, que contavam com todas as matérias e também foram realizados pelo CESPE. Primeiro, o número de questões do TPS deve aumentar. Sessenta e cinco questões são pouco para um programa tão amplo (em 2003 e 2004 o TPS contou com 100 questões).Segundo, o grau profundidade das questões deve ser menor. A presença de todas as matérias não permitirá um aprofundamento maior, já que para tanto seria necessário um número de questões significativo. Ao contrário do que possa parecer, a redução do grau de aprofundamento tende a aumentar a dificuldade da prova! Menos questões relativas a um programa imenso podem transformar a prova numa loteria, pois qualquer ponto do programa pode aparecer, ou não, e é dificílimo saber no que se concentrar(sem considerar o fato de que uma questão desperdiçada pode deixar o candidato mais um ano na fila). Terceiro, a prova de português terá mantida sua proporção e importância. Nos dois últimos anos(não apenas nos últimos dois anos), português teve 30% de proporção na pontuação total do TPS e não há indícios de que sua importância será reduzida. Com o aumento do número disciplinas, português se torna disciplina ainda mais estratégica para estabelecer a diferença entre os candidatos. Por último, história e política internacional devem reduzir sua participação relativa na prova, o que pode dificultar excessivamente a identificação dos pontos nos quais se concentrar. Qualquer tentativa de não cobrir o programa completo das disciplinas tem grandes chances de resultar em desastre.
Somente a publicação do edital do CACD 2008 permitirá que os candidatos possam, de alguma forma, elaborar uma estratégia pragmática e racional. Até lá, mais uma vez, reforço que é necessário estudar tudo de tudo, o maior tempo possível, com o maior esforço e sacrifício possíveis para que não sejam mais uma vez surpreendidos. Não se sabe absolutamente nada sobre a estrutura do próximo concurso além do que foi estabelecido pela portaria do Ministro de Estado e, diante das circunstâncias, mais uma vez recomendo que os candidatos não esperem que estruturas sejam mantidas ou repetidas no próximo CACD.
Por fim, o Diálogo Diplomático não se furtará da colaboração com os candidatos, principalmente aqueles que estão distantes dos grandes centros. No próximos dias, completaremos a série "dicas para o TPS" com geografia, economia e direito. Aos interessados, textos, artigos e todo o tipo de material serão disponibilizados no grupo de e-mails do blog, além dos que já estão.
Para inscrever-se: dialogodiplomatico-subscribe@yahoogrupos.com.br
Boa sorte a todos e bons estudos.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
O CACD 2008 - Mais difícil?
Caros
Certamente todos vocês já estão cientes das mudanças que ocorrerão no CACD 2008. Para muitos pode ter sido uma surpresa - apesar das insistentes advertências do Maurício! Mas será que essas mudanças dificultam o concurso? Ou são apenas um impacto, um susto passageiro, que não acarretará maiores problemas aos candidatos que se vinham preparando segundo os TPSs de 2006 e 2007?
Sei que o Maurício terá muito a acrescentar, mas aqui vão minhas impressões. Creio que a grande dificuldade se apresenta àqueles que concentraram sua preparação nas disciplinas cobradas no TPS de 2007, ignorando as demais. Mas ainda assim, este problema deverá ter proporções menores do que se imagina: os que realmente estavam preparando-se para o concurso, nessa altura do tempo - a meio ano da Terceira Fase - já devem ter visto todas as disciplinas, inclusive línguas. Afinal de contas, o conteúdo desta fase é extremamente amplo, o que exige muito mais do que seis meses de preparação.
Um ponto positivo do CACD 2008, ademais, é a inclusão de outros idiomas. Isso não apenas beneficia aqueles que tiveram contato com outros idiomas que não os 'tradicionais', mas também traz para o Itamaraty pessoas que conhecem línguas que são ou serão, cada vez mais, valorizadas no mundo diplomático - como há de ser o chinês.
Estas duas pequenas alterações não dificultam, a meu ver, o CACD, que mantém sua mais do que tradicional seletividade e seu rigor. Aos candidatos que já há alguns anos têm-se preparado para o concurso, essas mudanças não acarretarão dificuldades. Continuem os estudos, e aguardem o Edital!
Abraços e até uma próxima vez!
PS: Um registro triste: a Diplomacia brasileira perdeu um de seus grandes expoentes. Faleceu no dia 26, aos 89 anos, o Embaixador Mário Gibson Alves Barboza. Acho que a resenha publicada aqui fica como uma pequeníssima homenagem a um grande homem...
Certamente todos vocês já estão cientes das mudanças que ocorrerão no CACD 2008. Para muitos pode ter sido uma surpresa - apesar das insistentes advertências do Maurício! Mas será que essas mudanças dificultam o concurso? Ou são apenas um impacto, um susto passageiro, que não acarretará maiores problemas aos candidatos que se vinham preparando segundo os TPSs de 2006 e 2007?
Sei que o Maurício terá muito a acrescentar, mas aqui vão minhas impressões. Creio que a grande dificuldade se apresenta àqueles que concentraram sua preparação nas disciplinas cobradas no TPS de 2007, ignorando as demais. Mas ainda assim, este problema deverá ter proporções menores do que se imagina: os que realmente estavam preparando-se para o concurso, nessa altura do tempo - a meio ano da Terceira Fase - já devem ter visto todas as disciplinas, inclusive línguas. Afinal de contas, o conteúdo desta fase é extremamente amplo, o que exige muito mais do que seis meses de preparação.
Um ponto positivo do CACD 2008, ademais, é a inclusão de outros idiomas. Isso não apenas beneficia aqueles que tiveram contato com outros idiomas que não os 'tradicionais', mas também traz para o Itamaraty pessoas que conhecem línguas que são ou serão, cada vez mais, valorizadas no mundo diplomático - como há de ser o chinês.
Estas duas pequenas alterações não dificultam, a meu ver, o CACD, que mantém sua mais do que tradicional seletividade e seu rigor. Aos candidatos que já há alguns anos têm-se preparado para o concurso, essas mudanças não acarretarão dificuldades. Continuem os estudos, e aguardem o Edital!
Abraços e até uma próxima vez!
PS: Um registro triste: a Diplomacia brasileira perdeu um de seus grandes expoentes. Faleceu no dia 26, aos 89 anos, o Embaixador Mário Gibson Alves Barboza. Acho que a resenha publicada aqui fica como uma pequeníssima homenagem a um grande homem...
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
O G-4 e a Reforma do Conselho de Segurança - Final
O G-4 foi criado formalmente em 21 de setembro de 2004, logo após uma reunião que, a convite do Primeiro-Ministro do Japão, Junichiro Koizumi, envolveu o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Vice Primeiro-Ministro da Alemanha, Joschka Fischer, e o Primeiro-Ministro da Índia, Manmohan Singh. A reunião aconteceu em Nova York, às vésperas da inauguração do 59º período de sessões da Assembléia Geral. Em comunicado à imprensa, os quatro mandatários afirmaram a importância da reforma das Nações Unidas, inclusive do Conselho de Segurança, que "precisa refletir as realidades da comunidade internacional do século XXI". Defendiam a inclusão, no Conselho, de "forma permanente, [de] países que tenham a vontade e a capacidade de assumir as responsabilidades mais significativas em relação à manutenção da paz e segurança internacionais". Pela declaração, expressavam ainda seus apoios mútuos a suas candidaturas a membros permanentes, apontando, igualmente, para a necessidade de inclusão de países africanos na mesma categoria de membros.
Ao longo do final de 2004 e no primeiro semestre de 2005, o G-4 continuou a reunir-se com vistas a desenvolver uma estratégia única para lograr a reforma do Conselho de Segurança. Após intensas consultas mútuas, o G-4 fez circular, em maio de 2005, entre os Estados membros das Nações Unidas, uma proposta de reforma do Conselho, baseada no Modelo A do Plano Razali e do relatório "In Larger Freedom". Propunha o G-4 a criação de seis novos assentos permanentes com direito a veto. A proposta, como se poderia prever, foi recebida com frieza por grande maioria dos membros da Organização, por conta, em especial, da extensão do poder de veto a eventuais novos membros permanentes.
Em 6 de julho de 2005, o Grupo apresentaria um projeto de resolução à Assembléia Geral, que refletia sua proposta inicial; seis novos membros permanentes (dois da África, dois da Ásia, um da Europa e um da América Latina) e quatro novos membros não-permanentes. A principal alteração ficava por conta do poder de veto - o G-4 propunha que, inicialmente, os novos membros permanentes não exerceriam poder de veto, questão sobre a qual decidiria de forma definitiva uma conferência de revisão a ser realizada 15 anos após a entrada em vigor da reforma proposta (para o draft de resolução, veja-se o documento A/59/L.64).
Os desdobramentos dos debates revelaram um racha incontestável na Assembléia Geral. Em 18 de julho, a União Africana (UA) - com quem o G-4 entretinha todo tipo de consultas e negociações - apresentou uma proposta radical, que previa a inclusão de 11 membros, incluindo 6 permanentes com direito a veto (A/59/L.67). Na tentativa de dobrar a oposição de parte dos membros da Assembléia, o G-4, ao abrir mão do poder de veto, acabou perdendo o apoio dos 53 Estados da UA.
Três dias após, um outro grupo, o Uniting for Consensus, formado por países que se opunham ao plano de reforma do G-4, apresentou uma terceira proposta, pela qual defendia a inclusão apenas de 10 assentos não-permanentes e a abolição da não-reeleição para mandatos consecutivos (A/59/L.68).
Aos desacordos entre três propostas diferentes juntou-se a oposição da China e dos Estados Unidos à reforma do Conselho - apesar de os dois países defenderem "uma reforma", é pouco provável que isso vá além de um exercício retórico. Aprovar a reforma do Conselho de Segurança passou a ser tarefa impossível. O clima de otimismo criado pela Cúpula Mundial de setembro de 2005 foi efêmero, e não conseguiu suplantar os profundos desacordos existentes entre os membros quanto à reforma do órgão mais importante da ONU.
A 59ª Assembléia Geral chegou ao fim sem que as discussões avançassem. A Cúpula Mundial, da mesma forma, não produziu qualquer acordo substantivo - a mídia foi prolixa em registrar os esforços do então embaixador dos Estados Unidos, John Bolton, em minar o documento final que já havia sido produzido, em versão preliminar, para a aprovação dos Chefes de Estado e de governo. A oposição dos Estados Unidos e o desacordo entre os membros da ONU impediram qualquer acordo sobre a reforma do órgão, e o mesmo resultado se verificou na 60ª Assembléia Geral.
Em 6 de janeiro de 2006, o Japão recusou-se a apoiar uma nova proposta colocada em discussão por Alemanha, Brasil e Índia. Não obstante, os quatro governos negam o fim do G-4, e afirmam que continuarão a concertar posições comuns sobre a reforma do Conselho. Pode-se especular sobre os motivos que levaram Tóquio a não apoiar os outros membros do Grupo em mais uma tentativa de emplacar a desejada reforma. Sabe-se que os Estados Unidos apóiam explicitamente a admissão do Japão, o que poderia ter feito Tóquio reconsiderar sua posição no âmbito do G-4; pode-se apostar, por outro lado, que, ao se afastar do Grupo, o Japão esteja lançando mão de um estratagema, com a intenção de dobrar a resistência da China a apoiar a posição do Grupo (o grande problema da China é a admissão do Japão como membro permanente). Especulações, apenas, mas que merecem certa reflexão.
A agenda do 61º período de sessões da Assembléia Geral inclui a discussão sobre a reforma do Conselho de Segurança (item "Question on the Equitable Representation on and Increase in the Membership of the Security Council). Este é um tema que deverá ser acompanhado de perto, não apenas por ser de importância para os candidatos do CACD, mas por envolver diretamente interesses da Diplomacia brasileira.
Abraços!
Ao longo do final de 2004 e no primeiro semestre de 2005, o G-4 continuou a reunir-se com vistas a desenvolver uma estratégia única para lograr a reforma do Conselho de Segurança. Após intensas consultas mútuas, o G-4 fez circular, em maio de 2005, entre os Estados membros das Nações Unidas, uma proposta de reforma do Conselho, baseada no Modelo A do Plano Razali e do relatório "In Larger Freedom". Propunha o G-4 a criação de seis novos assentos permanentes com direito a veto. A proposta, como se poderia prever, foi recebida com frieza por grande maioria dos membros da Organização, por conta, em especial, da extensão do poder de veto a eventuais novos membros permanentes.
Em 6 de julho de 2005, o Grupo apresentaria um projeto de resolução à Assembléia Geral, que refletia sua proposta inicial; seis novos membros permanentes (dois da África, dois da Ásia, um da Europa e um da América Latina) e quatro novos membros não-permanentes. A principal alteração ficava por conta do poder de veto - o G-4 propunha que, inicialmente, os novos membros permanentes não exerceriam poder de veto, questão sobre a qual decidiria de forma definitiva uma conferência de revisão a ser realizada 15 anos após a entrada em vigor da reforma proposta (para o draft de resolução, veja-se o documento A/59/L.64).
Os desdobramentos dos debates revelaram um racha incontestável na Assembléia Geral. Em 18 de julho, a União Africana (UA) - com quem o G-4 entretinha todo tipo de consultas e negociações - apresentou uma proposta radical, que previa a inclusão de 11 membros, incluindo 6 permanentes com direito a veto (A/59/L.67). Na tentativa de dobrar a oposição de parte dos membros da Assembléia, o G-4, ao abrir mão do poder de veto, acabou perdendo o apoio dos 53 Estados da UA.
Três dias após, um outro grupo, o Uniting for Consensus, formado por países que se opunham ao plano de reforma do G-4, apresentou uma terceira proposta, pela qual defendia a inclusão apenas de 10 assentos não-permanentes e a abolição da não-reeleição para mandatos consecutivos (A/59/L.68).
Aos desacordos entre três propostas diferentes juntou-se a oposição da China e dos Estados Unidos à reforma do Conselho - apesar de os dois países defenderem "uma reforma", é pouco provável que isso vá além de um exercício retórico. Aprovar a reforma do Conselho de Segurança passou a ser tarefa impossível. O clima de otimismo criado pela Cúpula Mundial de setembro de 2005 foi efêmero, e não conseguiu suplantar os profundos desacordos existentes entre os membros quanto à reforma do órgão mais importante da ONU.
A 59ª Assembléia Geral chegou ao fim sem que as discussões avançassem. A Cúpula Mundial, da mesma forma, não produziu qualquer acordo substantivo - a mídia foi prolixa em registrar os esforços do então embaixador dos Estados Unidos, John Bolton, em minar o documento final que já havia sido produzido, em versão preliminar, para a aprovação dos Chefes de Estado e de governo. A oposição dos Estados Unidos e o desacordo entre os membros da ONU impediram qualquer acordo sobre a reforma do órgão, e o mesmo resultado se verificou na 60ª Assembléia Geral.
Em 6 de janeiro de 2006, o Japão recusou-se a apoiar uma nova proposta colocada em discussão por Alemanha, Brasil e Índia. Não obstante, os quatro governos negam o fim do G-4, e afirmam que continuarão a concertar posições comuns sobre a reforma do Conselho. Pode-se especular sobre os motivos que levaram Tóquio a não apoiar os outros membros do Grupo em mais uma tentativa de emplacar a desejada reforma. Sabe-se que os Estados Unidos apóiam explicitamente a admissão do Japão, o que poderia ter feito Tóquio reconsiderar sua posição no âmbito do G-4; pode-se apostar, por outro lado, que, ao se afastar do Grupo, o Japão esteja lançando mão de um estratagema, com a intenção de dobrar a resistência da China a apoiar a posição do Grupo (o grande problema da China é a admissão do Japão como membro permanente). Especulações, apenas, mas que merecem certa reflexão.
A agenda do 61º período de sessões da Assembléia Geral inclui a discussão sobre a reforma do Conselho de Segurança (item "Question on the Equitable Representation on and Increase in the Membership of the Security Council). Este é um tema que deverá ser acompanhado de perto, não apenas por ser de importância para os candidatos do CACD, mas por envolver diretamente interesses da Diplomacia brasileira.
Abraços!
terça-feira, 20 de novembro de 2007
A INDÚSTRIA DO BOATO
Antes de retornar às discussões específicas em relação à terceira fase do CACD, acredito ser necessário fazer uma discussão de caráter mais geral quanto a um dos problemas mais graves no processo de preparação dos candidatos, principalmente aqueles que estão longe dos grandes centros de preparação: O BOATO.
É natural que os cursos preparatórios e seus professores tentem, de alguma forma, prever os conteúdos possíveis para o CACD. É por meio desse processo de "vidência" que nascem os tão conhecidos "temas quentes". Embora eu reconheça que muitos do boatos surgem com alguma base factual, em geral não passam de especulações e tentativas de previsão que tendem prejudicar o processo de preparação, principalmente quando ainda há tempo para que o candidato procure adquirir um visão abrangente da bibliografia e do conteúdo programático do CACD , mas abre mão disso devido a um boato.
Os prejuízos possíveis para quem se torna um consumidor da "indústria do boato" são variados e muito significativos. Primeiro, o candidato tenderá a restringir seu estudo aos ditos "temas quentes", que podem ser mornos ou até mesmo frios. Em 2007, por exemplo, havia a certeza absoluta de que os temas de meio ambiente e energia estariam presentes em alguma das provas. O resultado todos sabem qual foi... Eu mesmo me concentrei absurdamente em tais temas e deixei de lado temas como zona costeira, o que me custou pelo menos 15 pontos na prova de geografia. Segundo, os "temas quentes" e os boatos criados em torno deles podem contribuir para que os formuladores das provas evitem abordar temas que serão respondidos com "discurso pronto". Se o candidato focar-se somente nesses temas, o resultado pode ser desastroso. Como responder uma questão de relações bilaterais Brasil-Japão, algo que ninguém sequer cogitava, sem uma base ampla de conhecimentos da política externa brasileira e a leitura de alguns artigos sobre as relações Brasil-Ásia? Por último, os boatos ocupam tempo, gastam energia, estressam, aumentam o nervosismo e quase sempre estão errados.
De forma alguma estou afirmando que não se deve tentar prever possíveis temas que serão abordados no CACD. Há temas que não são "quentes", mas que são relativamente evidentes em função de sua importância e seus contexto. Em 2007, por exemplo, o temas relativos aos 50 anos da UE e às relações Brasil-EUA, depois da troca de visitas presidenciais, eram previsíveis. Entretanto, quem se concentrou somente nos temas previsíveis teve problemas com os temas de relações bilaterais e da atuação das empresas brasileiras na América do Sul. Estou afirmando que os candidatos DEVEM ter uma visão abrangente do conteúdo programático, e não se deixarem envolver pela tentação de simplificar a preparação e cair numa "estrada para a perdição".
O edital ainda não foi divulgado, não sabemos ainda quando o será. Se o calendário for mantido, faltam cerca de 6 meses para o inicio da terceira fase. Ainda não é o momento de direcionar os estudos para temas específicos em detrimento de boa parte do conteúdo programático. Sequer sabemos se a estrutura do concurso, especialmente a do TPS, será mantida. Como ficam aqueles que forem surpreendidos por alguma mudança significativa, se houver?
Tenho consciência da dificuldade de evitar tais equívocos em função da pressão sufocante que os boatos exercem sobre nós nos ambientes de preparação, em função da competitividade e do medo de errar e perder um ano de preparação. Reforço, entretanto, que aqueles que têm uma preparação mais abrangente correm menos riscos.
Lutar contra a "indústria do boato" é uma batalha quixotesca, mas o que seria do mundo sem os Quixotes?
É natural que os cursos preparatórios e seus professores tentem, de alguma forma, prever os conteúdos possíveis para o CACD. É por meio desse processo de "vidência" que nascem os tão conhecidos "temas quentes". Embora eu reconheça que muitos do boatos surgem com alguma base factual, em geral não passam de especulações e tentativas de previsão que tendem prejudicar o processo de preparação, principalmente quando ainda há tempo para que o candidato procure adquirir um visão abrangente da bibliografia e do conteúdo programático do CACD , mas abre mão disso devido a um boato.
Os prejuízos possíveis para quem se torna um consumidor da "indústria do boato" são variados e muito significativos. Primeiro, o candidato tenderá a restringir seu estudo aos ditos "temas quentes", que podem ser mornos ou até mesmo frios. Em 2007, por exemplo, havia a certeza absoluta de que os temas de meio ambiente e energia estariam presentes em alguma das provas. O resultado todos sabem qual foi... Eu mesmo me concentrei absurdamente em tais temas e deixei de lado temas como zona costeira, o que me custou pelo menos 15 pontos na prova de geografia. Segundo, os "temas quentes" e os boatos criados em torno deles podem contribuir para que os formuladores das provas evitem abordar temas que serão respondidos com "discurso pronto". Se o candidato focar-se somente nesses temas, o resultado pode ser desastroso. Como responder uma questão de relações bilaterais Brasil-Japão, algo que ninguém sequer cogitava, sem uma base ampla de conhecimentos da política externa brasileira e a leitura de alguns artigos sobre as relações Brasil-Ásia? Por último, os boatos ocupam tempo, gastam energia, estressam, aumentam o nervosismo e quase sempre estão errados.
De forma alguma estou afirmando que não se deve tentar prever possíveis temas que serão abordados no CACD. Há temas que não são "quentes", mas que são relativamente evidentes em função de sua importância e seus contexto. Em 2007, por exemplo, o temas relativos aos 50 anos da UE e às relações Brasil-EUA, depois da troca de visitas presidenciais, eram previsíveis. Entretanto, quem se concentrou somente nos temas previsíveis teve problemas com os temas de relações bilaterais e da atuação das empresas brasileiras na América do Sul. Estou afirmando que os candidatos DEVEM ter uma visão abrangente do conteúdo programático, e não se deixarem envolver pela tentação de simplificar a preparação e cair numa "estrada para a perdição".
O edital ainda não foi divulgado, não sabemos ainda quando o será. Se o calendário for mantido, faltam cerca de 6 meses para o inicio da terceira fase. Ainda não é o momento de direcionar os estudos para temas específicos em detrimento de boa parte do conteúdo programático. Sequer sabemos se a estrutura do concurso, especialmente a do TPS, será mantida. Como ficam aqueles que forem surpreendidos por alguma mudança significativa, se houver?
Tenho consciência da dificuldade de evitar tais equívocos em função da pressão sufocante que os boatos exercem sobre nós nos ambientes de preparação, em função da competitividade e do medo de errar e perder um ano de preparação. Reforço, entretanto, que aqueles que têm uma preparação mais abrangente correm menos riscos.
Lutar contra a "indústria do boato" é uma batalha quixotesca, mas o que seria do mundo sem os Quixotes?
domingo, 18 de novembro de 2007
O G-4 e a Reforma do Conselho de Segurança - Parte I
Caros amigos do Diálogo Diplomático,
Estou de volta depois de uma semana, desta vez para tratar de um dos temas que mais têm concentrado a atenção da política externa brasileira: a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Talvez de forma surpreendente, não houve ainda no concurso uma questão específica sobre este assunto, que pode - eu disse pode - ser uma aposta para as próximas provas.
A reforma do Conselho de Segurança tem sido debatida nas Nações Unidas pelo menos desde 1993, quando foi estabelecido por resolução da Assembléia Geral (A/48/26) o chamado Open-Ended Working Group (OEWG), encarregado de estudar as principais dimensões de uma eventual reforma do Conselho e, a partir de consultas com os Estados membros, apresentar sugestões pertinentes. Em 1997, o OEWG produziu seu primeiro resultado concreto, o chamado Plano Razali, que propunha a adição de cinco membros permanentes e de quatro não-permanentes ao Conselho. O Plano propunha ainda um draft de resolução da Assembléia Geral que previa, inclusive, a data da eleição dos novos membros permanentes: 28 de janeiro de 1998. Evidentemente, não se logrou reforma alguma, em grande parte porque superestimou-se o clima de euforia que viviam as Nações Unidas no imediato pós-Guerra Fria, e que começaria a ser desfeito com as crises da Somália (1993) e de Ruanda (1994), dando mais visibilidade ainda à relativa paralisia do principal órgão das Nações Unidas em lidar com problemas e desafios típicos do pós-Guerra Fria.
O ímpeto por reformas da Organização como um todo seria retomado durante a gestão de Kofi Annan (1997-2007). As mudanças pelas quais passou a cena internacional no período foram decisivas para alimentar a percepção de que a ONU deveria ser reformada, sob pena de não conseguir fazer frente aos desafios de um mundo radicalmente diferente daquele em que fora criada, em 1945, e de não conseguir cumprir os objetivos instituídos pela Carta de São Francisco. O 11 de Setembro e, especialmente, a II Guerra do Golfo confrontaram as Nações Unidas como marcos de uma nova era para a qual a Organização parecia não estar preparada.
Em 2003, Annan instalou um painel composto por 16 pessoas eminentes no cenário internacional, o Painel de Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudança. O Painel apresentaria seu relatório em novembro de 2004 - "A More Secure World: Our Shared Responsibility" -, em que reafirmaria a necessidade de reforma do Conselho de Segurança, pautada por quatro princípios fundamentais: 1) aumentar o envolvimento dos Estados membros que mais contribuem para com a Organização; 2) aumentar a representatividade do Conselho; 3) manter sua eficiência; e 4) torná-lo mais democrático e transparente. Com base nestes princípios, o relatório sugeria ainda duas alternativas para a reforma do Conselho - o que, por si, já refletia a dificuldade de levar a cabo uma reforma abrangente, pois nem mesmo o Painel fora capaz de chegar a uma sugestão consensual entre seus 16 participantes. O Modelo A previa a admissão de seis novos membros permanentes, sem direito a veto, dos quais dois seriam da África, dois da Ásia, um das Américas e um da Europa. O Modelo B previa a admissão apenas de membros não-permanentes: oito assentos com mandatos de dois anos renováveis e dois assentos com mandatos de dois anos não-renováveis.
Em março de 2005, Kofi Annan publicou um extenso relatório, no qual defendia a necessidade de uma reforma abrangente da Organização. "In Larger Freedom: Towards Development, Security, and Human Rights for All" afirmava, em relação ao Conselho de Segurança, que este órgão "reflete o mundo de 1945, não o do século XXI", e que "ele deve ser reformulado de modo a incluir os Estados que mais contribuem para com a Organização [...] e a representar de forma mais ampla o atual corpo de membros da ONU". Segundo Annan, chegara o momento oportuno de se empreender uma reforma abrangente da Organização, e os chefes de Estado e de governo de todo o mundo deveriam aproveitar a realização da Cúpula Mundial (14 a 16 de setembro de 2005) para fazê-lo.
Parecia iniciar-se um momento único na história das Nações Unidas, e a reforma de seus principais órgãos surgia pela primeira vez como algo perfeitamente realizável. Estados que havia muito nutriam expectativas quanto a uma reforma do Conselho de Segurança passaram a agir e organizar-se em torno de propostas que, uma vez mais, refletiriam a total falta de consenso quanto a que tipo de reforma empreender.
Creio que isto oferece um razoável pano de fundo para se entender a criação e a atuação do G-4, que será tema de um próximo texto. Espero que este tenha sido útil para fornecer-lhes os primeiros passos para um estudo mais aprofundado da questão, que continua a se desenrolar no âmbito das Nações Unidas. A esse respeito, vale a pena acompanhar os desdobramentos: a reforma do Conselho de Segurança será, mais uma vez, tema da agenda dos debates da Assembléia Geral nos próximos meses.
Abraços e até uma próxima vez!
Estou de volta depois de uma semana, desta vez para tratar de um dos temas que mais têm concentrado a atenção da política externa brasileira: a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Talvez de forma surpreendente, não houve ainda no concurso uma questão específica sobre este assunto, que pode - eu disse pode - ser uma aposta para as próximas provas.
A reforma do Conselho de Segurança tem sido debatida nas Nações Unidas pelo menos desde 1993, quando foi estabelecido por resolução da Assembléia Geral (A/48/26) o chamado Open-Ended Working Group (OEWG), encarregado de estudar as principais dimensões de uma eventual reforma do Conselho e, a partir de consultas com os Estados membros, apresentar sugestões pertinentes. Em 1997, o OEWG produziu seu primeiro resultado concreto, o chamado Plano Razali, que propunha a adição de cinco membros permanentes e de quatro não-permanentes ao Conselho. O Plano propunha ainda um draft de resolução da Assembléia Geral que previa, inclusive, a data da eleição dos novos membros permanentes: 28 de janeiro de 1998. Evidentemente, não se logrou reforma alguma, em grande parte porque superestimou-se o clima de euforia que viviam as Nações Unidas no imediato pós-Guerra Fria, e que começaria a ser desfeito com as crises da Somália (1993) e de Ruanda (1994), dando mais visibilidade ainda à relativa paralisia do principal órgão das Nações Unidas em lidar com problemas e desafios típicos do pós-Guerra Fria.
O ímpeto por reformas da Organização como um todo seria retomado durante a gestão de Kofi Annan (1997-2007). As mudanças pelas quais passou a cena internacional no período foram decisivas para alimentar a percepção de que a ONU deveria ser reformada, sob pena de não conseguir fazer frente aos desafios de um mundo radicalmente diferente daquele em que fora criada, em 1945, e de não conseguir cumprir os objetivos instituídos pela Carta de São Francisco. O 11 de Setembro e, especialmente, a II Guerra do Golfo confrontaram as Nações Unidas como marcos de uma nova era para a qual a Organização parecia não estar preparada.
Em 2003, Annan instalou um painel composto por 16 pessoas eminentes no cenário internacional, o Painel de Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudança. O Painel apresentaria seu relatório em novembro de 2004 - "A More Secure World: Our Shared Responsibility" -, em que reafirmaria a necessidade de reforma do Conselho de Segurança, pautada por quatro princípios fundamentais: 1) aumentar o envolvimento dos Estados membros que mais contribuem para com a Organização; 2) aumentar a representatividade do Conselho; 3) manter sua eficiência; e 4) torná-lo mais democrático e transparente. Com base nestes princípios, o relatório sugeria ainda duas alternativas para a reforma do Conselho - o que, por si, já refletia a dificuldade de levar a cabo uma reforma abrangente, pois nem mesmo o Painel fora capaz de chegar a uma sugestão consensual entre seus 16 participantes. O Modelo A previa a admissão de seis novos membros permanentes, sem direito a veto, dos quais dois seriam da África, dois da Ásia, um das Américas e um da Europa. O Modelo B previa a admissão apenas de membros não-permanentes: oito assentos com mandatos de dois anos renováveis e dois assentos com mandatos de dois anos não-renováveis.
Em março de 2005, Kofi Annan publicou um extenso relatório, no qual defendia a necessidade de uma reforma abrangente da Organização. "In Larger Freedom: Towards Development, Security, and Human Rights for All" afirmava, em relação ao Conselho de Segurança, que este órgão "reflete o mundo de 1945, não o do século XXI", e que "ele deve ser reformulado de modo a incluir os Estados que mais contribuem para com a Organização [...] e a representar de forma mais ampla o atual corpo de membros da ONU". Segundo Annan, chegara o momento oportuno de se empreender uma reforma abrangente da Organização, e os chefes de Estado e de governo de todo o mundo deveriam aproveitar a realização da Cúpula Mundial (14 a 16 de setembro de 2005) para fazê-lo.
Parecia iniciar-se um momento único na história das Nações Unidas, e a reforma de seus principais órgãos surgia pela primeira vez como algo perfeitamente realizável. Estados que havia muito nutriam expectativas quanto a uma reforma do Conselho de Segurança passaram a agir e organizar-se em torno de propostas que, uma vez mais, refletiriam a total falta de consenso quanto a que tipo de reforma empreender.
Creio que isto oferece um razoável pano de fundo para se entender a criação e a atuação do G-4, que será tema de um próximo texto. Espero que este tenha sido útil para fornecer-lhes os primeiros passos para um estudo mais aprofundado da questão, que continua a se desenrolar no âmbito das Nações Unidas. A esse respeito, vale a pena acompanhar os desdobramentos: a reforma do Conselho de Segurança será, mais uma vez, tema da agenda dos debates da Assembléia Geral nos próximos meses.
Abraços e até uma próxima vez!
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Política Internacional - 3ª Fase
Caros amigos do Diálogo Diplomático
A convite do Maurício, sou o mais novo colaborador deste blog, e espero contribuir para com todos aqueles que estão preparando-se para o CACD e, de modo geral, todos os leitores que se interessem por Política Externa e Diplomacia.
Meu nome é Fábio Simão Alves, sou formado em Relações Internacionais pela USP e sou diplomata. Fui aprovado este ano. Pretendo compartilhar com todos vocês um pouco do que aprendi durante minha longa preparação. Política Internacional será o tema da maior parte dos meus comentários, por ser não apenas uma das minhas paixões, mas, também, a disciplina em que tive o melhor desempenho no CACD. Não esperem encontrar apenas dicas para o Concurso, no entanto: tenho também a intenção de escrever alguns artigos sobre o assunto - lembrando que estes refletirão sempre minha opinião, e jamais, necessariamente, a do Itamaraty.
Para começar, vou dar algumas dicas que, creio, serão úteis para a prova de Política Internacional da 3ª fase. Aproveitando que o Maurício já escreveu sobre a disciplina no TPS, deixarei esta fase de lado.
A prova de PI assusta já pelo conteúdo cobrado: a bibliografia é vastíssima, e cobre uma variedade de temas: política internacional, política externa brasileira, teoria das relações internacionais, questões internacionais contemporâneas etc. Em que se concentrar?
Acredito que política externa brasileira deva ser o norte dos estudos para PI. Das cinco questões do concurso este ano, quatro versavam sobre política externa do País. Em segundo lugar, creio que um enfoque analítico é fundamental; é preciso saber trabalhar com os conceitos e temas de PI, porque o tipo de questão pode induzir o candidato a privilegiar um enfoque descritivo, histórico, quase narrativo, e isso não é o que se pede no Concurso...
Ler os livros da bibliografia indicada é fundamental - mas não todos, como o Maurício já deve ter dito. Muitos são dispensáveis. Alguns, em contraste, são quase obrigatórios. Amado Cervo & Clodoaldo Bueno e Henrique Altemani são dois deles. Outros que são recomendáveis são Robert Gilpin, Flávio Sombra Saraiva, Moniz Bandeira, José Guilhon Albuquerque e Paulo Vizentini.
Os livros são essenciais, mas não suficientes. Manter-se a par da política internacional na atualidade, no dia-a-dia mesmo, é importantíssimo. Considero leituras obrigatórias revistas especializadas (Política Externa, Contexto Internacional, Foreign Affairs...), artigos publicados por Diplomatas (RelNet é referência óbvia) e mídia internacional (The Economist é altamente recomendável). Este tipo de leitura não apenas mantém o candidato atualizado quanto à política internacional, mas também ajuda-lhe a desenvolver o senso crítico e a capacidade de analisar temas internacionais contemporâneos.
Bom, para um primeiro contato, creio ter atingido o objetivo, que era fornecer dicas mais gerais sobre a prova de PI. Evidentemente, as dicas nunca se esgotam em algumas poucas linhas; ademais, cada candidato desenvolve, ao longo de sua preparação, uma rotina e um método de estudos próprios, com o que descobre, por fim, suas próprias dicas.
Uma última sugestão (e me desculpem a obviedade): não esperem descobrir segredos ou truques para passar no CACD. A maior dica que eu posso dar - e nesta insistirei sempre - é: estudem. Muito.
Abraços e até uma próxima oportunidade!
A convite do Maurício, sou o mais novo colaborador deste blog, e espero contribuir para com todos aqueles que estão preparando-se para o CACD e, de modo geral, todos os leitores que se interessem por Política Externa e Diplomacia.
Meu nome é Fábio Simão Alves, sou formado em Relações Internacionais pela USP e sou diplomata. Fui aprovado este ano. Pretendo compartilhar com todos vocês um pouco do que aprendi durante minha longa preparação. Política Internacional será o tema da maior parte dos meus comentários, por ser não apenas uma das minhas paixões, mas, também, a disciplina em que tive o melhor desempenho no CACD. Não esperem encontrar apenas dicas para o Concurso, no entanto: tenho também a intenção de escrever alguns artigos sobre o assunto - lembrando que estes refletirão sempre minha opinião, e jamais, necessariamente, a do Itamaraty.
Para começar, vou dar algumas dicas que, creio, serão úteis para a prova de Política Internacional da 3ª fase. Aproveitando que o Maurício já escreveu sobre a disciplina no TPS, deixarei esta fase de lado.
A prova de PI assusta já pelo conteúdo cobrado: a bibliografia é vastíssima, e cobre uma variedade de temas: política internacional, política externa brasileira, teoria das relações internacionais, questões internacionais contemporâneas etc. Em que se concentrar?
Acredito que política externa brasileira deva ser o norte dos estudos para PI. Das cinco questões do concurso este ano, quatro versavam sobre política externa do País. Em segundo lugar, creio que um enfoque analítico é fundamental; é preciso saber trabalhar com os conceitos e temas de PI, porque o tipo de questão pode induzir o candidato a privilegiar um enfoque descritivo, histórico, quase narrativo, e isso não é o que se pede no Concurso...
Ler os livros da bibliografia indicada é fundamental - mas não todos, como o Maurício já deve ter dito. Muitos são dispensáveis. Alguns, em contraste, são quase obrigatórios. Amado Cervo & Clodoaldo Bueno e Henrique Altemani são dois deles. Outros que são recomendáveis são Robert Gilpin, Flávio Sombra Saraiva, Moniz Bandeira, José Guilhon Albuquerque e Paulo Vizentini.
Os livros são essenciais, mas não suficientes. Manter-se a par da política internacional na atualidade, no dia-a-dia mesmo, é importantíssimo. Considero leituras obrigatórias revistas especializadas (Política Externa, Contexto Internacional, Foreign Affairs...), artigos publicados por Diplomatas (RelNet é referência óbvia) e mídia internacional (The Economist é altamente recomendável). Este tipo de leitura não apenas mantém o candidato atualizado quanto à política internacional, mas também ajuda-lhe a desenvolver o senso crítico e a capacidade de analisar temas internacionais contemporâneos.
Bom, para um primeiro contato, creio ter atingido o objetivo, que era fornecer dicas mais gerais sobre a prova de PI. Evidentemente, as dicas nunca se esgotam em algumas poucas linhas; ademais, cada candidato desenvolve, ao longo de sua preparação, uma rotina e um método de estudos próprios, com o que descobre, por fim, suas próprias dicas.
Uma última sugestão (e me desculpem a obviedade): não esperem descobrir segredos ou truques para passar no CACD. A maior dica que eu posso dar - e nesta insistirei sempre - é: estudem. Muito.
Abraços e até uma próxima oportunidade!
terça-feira, 13 de novembro de 2007
RESENHAS
Faremos uma pequena pausa nos debates sobre o CACD. O Diálogo Diplomático está publicando quatro resenhas de obras relacionadas à diplomacia, elaboradas como exercício da disciplina de redação do IRBr. Eu decidi compartilhar minha resenha e meus colegas Fábio Simão Alves, Gustavo Pereira e D. G. Ducci aceitaram o convite para publicarem as suas. Os temas e obras podem interessar a muitos leitores do blog, espero que apreciem.
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CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II. Série Perfis Brasileiros, Rio de Janeiro: Cia das Letras, 2007.
Maurício Costa
A história do Brasil contada do ponto de vista do Imperador ou a vida do Imperador contada de acordo com a história do Brasil? A biografia de D.Pedro II, escrita por José Murilo de Carvalho, é uma resposta afirmativa a ambas as perguntas. Da abdicação do pai ao ocaso do Império no simbólico baile da Ilha Fiscal, acompanhamos, ao mesmo tempo, o processo histórico e os sentimentos de um homem que confundiu sua vida com a vida política do País.
A obra de José Murilo de Carvalho é um exercício historiográfico de alto grau de dificuldade. O autor elaborou seu trabalho com base nos diários e cartas de D. Pedro II, bem como em uma ampla consulta bibliográfica e em diversas outras fontes primárias. A narrativa é fluida, quase literária, muito embora não lhe escapem a precisão dos fatos e o viés analítico do historiador. O autor é bem sucedido na tarefa de conciliar os processos, os personagens, os sentimentos e as convicções na condução da narrativa.
O medo dos canhões, a coroação e o choro de um menino de cinco anos em 1831 se misturam à necessidade de manutenção da unidade nacional, à instabilidade política e ao processo de consolidação do Brasil independente. Pedro de Alcântara, o imperador criança, seria um dos estadistas mais respeitados do mundo. D.Pedro II seria um homem de amores impulsivos, de amor duradouro pela Condessa de Barral, frustrado por não ter a oportunidade de viver como um cidadão comum.
Ao longo da narrativa, conhecemos o D. Pedro II apaixonado pelas letras e pelas artes, homem culto e de convicções fortes. Esse mesmo D.Pedro II também nos é apresentado como um homem de princípios políticos claros, exasperado com a hipocrisia dos políticos profissionais, absorto pelos problemas do país e apaixonado pelo Brasil. Um D. Pedro II diferente daquele personagem dos livros escolares nos é revelado quando seus amores, suas paixões e seus desejos são narrados de próprio punho em suas cartas e em seu diário pessoal.
A história pessoal tem como pano de fundo os principais fatos históricos de seus quarenta e nove anos de reinado: a maioridade, a consolidação da unidade nacional, as políticas intervencionistas na Bacia do Rio da Prata, a Guerra do Paraguai, as relações com a Inglaterra, a questão religiosa, a questão da abolição, o republicanismo e. as contradições do poder moderador. A voz de Pedro de Alcântara, homem comum e Imperador, com mediação de José Murilo de Carvalho, expressa seus sentimentos e convicções em relação a tais eventos e contribui para esclarecer muitas dúvidas a respeito de interpretações de seus atos como governante do Brasil.
A doença, a decadência de sua capacidade para unir as elites políticas, a queda e o exílio dão ao epílogo da obra de José Murilo de Carvalho, assim como ao epílogo da vida de Pedro de Alcântara, um tom melancólico que parecia prenunciar o caos que se instalaria no Brasil republicano. A morte de D. Pedro II não é o fim de sua história, mas o início da recuperação da imagem de estadista, de político e de maior personalidade brasileira do século XIX, quem sabe a maior de nossa curta história como nação independente.
D. Pedro II, da série Perfis Brasileiros, é uma biografia de altíssima qualidade que merece a atenção dos leitores, tanto pela beleza da história que é contada quanto pelo talento do historiador José Murilo de Carvalho, um de nossos maiores especialistas em história do Império.
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Barboza, Mario Gibson. Na Diplomacia, o Traço Todo da Vida. Rio de Janeiro: Record, 1992.
Resenha
Fábio Simão Alves
O historiador e escritor escocês Thomas Carlyle disse uma vez que “uma vida bem escrita é quase tão rara como uma vida bem vivida”. Avaliada a partir dessas palavras, “Na Diplomacia, o Traço Todo da Vida” é, certamente, uma daquelas obras raras, ou melhor, duplamente raras: o livro do ex-chanceler Mario Gibson Barboza é uma vida bem escrita a respeito de uma vida bem vivida.
A obra de Mario Gibson não é, a bem da verdade, uma autobiografia, mas, antes, um livro de impressões, um livro de memórias do tipo incomum: “Na Diplomacia...” é muito mais uma história fatual da política externa do Brasil, durante um período de mais de meio século (1940-1992), do que a história da vida de um homem. Mario Gibson se coloca como o co-adjuvante de um enredo em que a Diplomacia brasileira é a personagem principal.
Mario Gibson Barboza é uma das figuras mais destacadas da Diplomacia brasileira contemporânea. Ingresso no serviço exterior em 1940, galgou ao longo de cinco décadas os postos mais importantes da carreira: ministro-conselheiro nas Nações Unidas; Embaixador em Washington, Londres e Roma; Chefe de Gabinete nas gestões Raul Fernandes, Afonso Arinos e San Tiago Dantas; Secretário-Geral na gestão Magalhães Pinto; e, finalmente, Ministro de Estado das Relações Exteriores no governo Médici. Mais importantes do que sua trajetória pessoal, no entanto, foram as profundas transformações por que passou o Brasil no período que coincide com sua carreira, e que são, na realidade, o fio condutor de seu livro.
Com elegância e sensibilidade, Mario Gibson descreve algumas das figuras mais importantes de nossa Diplomacia: suas páginas trazem ricas histórias de Raul Fernandes (“o homem que viria a ser tão importante em minha vida, que me daria todo seu afeto de pai que nunca foi, que exerceria tão forte fascínio sobre mim e seria determinante na minha carreira diplomática”) e San Tiago Dantas (“depois que o encontrei, tanto sua figura de homem público como sua persona me foram sendo reveladas no que para mim ficou sendo a minha verdade [...]. Como e quando se organizará novamente um ser tão excepcional?”). Não faltam tampouco análises penetrantes das mais variadas personalidades políticas, do Brasil e do mundo, que Mario Gibson conheceu durante sua carreira: Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Emílio Médici, Delfim Netto, Golda Meir, Henry Kissinger, Richard Nixon, Anwar Sadat...
Exibe uma visão abrangente e perspicaz quando analisa os principais momentos da política externa brasileira na segunda metade do século XX. De forma bastante modesta, põe-se no lugar de observador, mesmo nos momentos em que atuou de forma decisiva, para oferecer ao leitor um relato preciso de momentos fundamentais da Diplomacia brasileira, como o lançamento da Operação Pan-Americana, a expulsão do governo cubano da OEA, o lançamento da idéia de Itaipu, a transferência do Itamaraty para Brasília, o lançamento da Diplomacia do Interesse Nacional no governo Médici, as crises com os Estados Unidos nos anos 70, a consolidação da política africana na Diplomacia brasileira. Sua perspectiva de participante de todos esses momentos oferece ao leitor uma nova visão dos fatos, que perdem parte do caráter formal que imprimem os manuais de História Diplomática para, quase que romanceados – sem prescindir, no entanto, de fidedignidade – assumirem uma proximidade que atrai o leitor para dentro dos acontecimentos, tornando-os muito mais interessantes à medida que se revelam mais e mais próximos.
No livro, não faltam passagens que desvendam momentos de bastidores da Diplomacia, sem que o autor, no entanto, se incline para a vulgaridade do gossip, tão ao gosto de muitos (pseudo-)escritores de memórias, inclusive ex-diplomatas... Uma das mais interessantes, reveladora do caráter de Mario Gibson e de seu amor pela Casa, é um diálogo que teve com o Presidente Médici, em 1971, a respeito de críticas que o então super-ministro Delfim Netto tecera à política africana lançada pelo Itamaraty. O Chanceler, ultrajado pelas críticas de Delfim, mandara o Secretário-Geral, Embaixador Jorge de Carvalho e Silva, rebatê-las por meio de nota à imprensa, o que desagradou ao Presidente. Repreendido fortemente por Médici, Gibson assumiu posição de resistência decidida: “Olha, Presidente, vamos fazer um acordo? O senhor fala com o Delfim Netto para não se meter no Itamaraty. Ele se mete em todos os Ministérios, eu não tenho nada a ver com isso. Mas no meu não se mete”. Ao que Médici respondeu, sorrindo, de forma surpreendente para o próprio autor: “Você é um pernambucano de sangue muito quente. É pior do que no Rio Grande!”.
É com clareza, sensibilidade para os fatos e as pessoas e, mesmo, certa informalidade que Mario Gibson tece em sua obra um quadro de impressões nítidas sobre os cinqüenta anos de Diplomacia brasileira dos quais foi co-adjuvante – ora secundário, ora principal, mas sempre um co-adjuvante. “Não pretendi fazer desta narrativa uma autobiografia, nem tampouco um livro de memórias”, escreve-nos Gibson. Não há no livro sua história; o que há ali são, como reconhece o ex-Chanceler, “minhas histórias”. Histórias da Diplomacia, que se confundem com a história da vida de um homem excepcional. A obra revela, talvez, a sina de todo diplomata: suas vidas pessoal e profissional inevitavelmente se confundem, a ponto de ser uma única vida, vida esta cujo “traço todo” está fadado a ser a Diplomacia.
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SARAIVA GUERREIRO, Ramiro. Lembranças de um empregado do Itamaraty. São Paulo: Siciliano, 1992.
Gustavo dos Santos Pereira
A obra Lembranças de um empregado do Itamaraty, do diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores Ramiro Saraiva Guerreiro, ao lado das memórias do embaixador Gibson Barbosa (Na diplomacia, o traço todo da vida), constitui retrato fiel da atuação do Itamaraty na década de 70 e no início dos anos 80, período dos mais significativos para a redefinição da política externa brasileira.
O título da obra, segundo o próprio diplomata, remete a uma expressão comumente usada pelo embaixador Cyro de Freitas-Valle, a quem credita muito do que sabe e a quem considera um mentor intelectual e profissional. Nas próprias palavras de Guerreiro, “não há capacidade de mando se antes não se obedeceu”; para ele, portanto, a expressão “empregado do Itamaraty” reveste-se de um tom de humildade e revela o espírito de aprendizado árduo do qual está imbuída a profissão de diplomata.
Ao longo do texto, damo-nos conta facilmente de que Saraiva Guerreiro tem a preocupação de convidar o leitor a adentrar o universo de suas memórias. É inegável a estratégia de ambientação que o ex-ministro adota para que o leitor se sinta familiarizado com os conceitos que norteavam a diplomacia brasileira na época em foco. Terceiro-mundismo, política externa independente, desenvolvimento, não-alinhamento são conceitos manuseados com habilidade e conhecimento de causa pelo autor de maneira a trazer o leitor ao pensamento do Itamaraty no período do chamado “pragmatismo responsável” em política externa.
Saraiva Guerreiro teve uma brilhante carreira. Serviu em Washington, Paris e Nova Iorque, na missão junto a ONU, e tornou-se conhecido por sua atuação como secretário-geral da casa (de 1974 a 1979) durante o governo Geisel e como ministro das Relações Exteriores do governo Figueiredo (de 1979 a 1985). Testemunhou, nessas altas funções, episódios da política internacional tão marcantes quanto a Guerra das Malvinas ou a formação do Grupo de Contadora, de apoio à pacificação dos países da América Central. É sobre esse período que transcorrem as histórias e relatos da obra, sempre pontilhadas pelo bom-humor que é habitual a Saraiva Guerreiro.
Um dos trunfos de sua estratégia discursiva é evitar que o livro siga um roteiro cronológico. Com efeito, Saraiva Guerreiro nos brinda com suas ricas experiências e as anedotas saborosas sem preocupar-se com qualquer tipo de ordem ou plano. O livro atrai o leitor ao aproximar-se do fluxo de consciência, ao acercar-se quase de um relato leve de quem toma uma caneta à mão e desata a escrever. Ressalte-se, contudo, que se há divisões em Memórias de um empregado do Itamaraty, essas são temáticas, por opção didática expressa do autor.
É interessante notar que o ex-ministro de Estado, entre uma anedota e outra, defende a idéia de que o “pragmatismo responsável” é uma releitura crítica da antiga “política externa independente”, e não significa outra coisa senão uma natural adaptação do Itamaraty aos novos desafios do mundo da détente, sem abandonar suas tradições. Nas entrelinhas do seu discurso, extrai-se o âmago da política externa que ajudou a elaborar: uma opção deliberada por aquilo que hoje se chama de “Sul”, e um certo ressentimento para com um “Norte” incapaz de contribuir para satisfazer as necessidades próprias de um país em desenvolvimento como o Brasil.O livro de Saraiva Guerreiro é conciso, elucidativo e de leitura extremamente agradável e lúdica. Mais do que isso, o livro ganha um interesse especial já que trata de uma época que se constitui como embrião da atual política externa brasileira: Memórias de um empregado do Itamaraty prova como esta é herdeira da política externa do Itamaraty dos anos 70, e como a continuidade tão cara a esse ministério não é apenas um discurso retórico.
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Diplomacia Cultural, de Edgard Telles Ribeiro
D. G. Ducci
O chanceler Celso Amorim tem reiterado que o processo de integração sul-americana não deve ser apenas um projeto de governos e de empresários, mas também dos povos e das civilizações. Não basta que os presidentes e os políticos sejam integracionistas; é preciso, nas palavras do ministro, que o “guarda da esquina” também o seja. Mudanças no pensamento e nas atitudes das populações significam aquisições de traços culturais diferenciados. Amorim, que construiu boa parte de sua carreira preocupado com os temas da diplomacia cultural, sabe muito bem disso.
Outro profundo conhecedor dos meandros da ação diplomática no campo da cultura é o Embaixador Edgard Telles Ribeiro. Assim como Amorim, Telles Ribeiro tem sua carreira ligada à área cultural do Itamaraty. Além de diplomata, é romancista e contista, tendo publicado cerca de uma dezena de livros na última década e meia. Sua obra – estranhamente menos conhecida do grande público do que deveria – já foi publicada em diversos países, como Estados Unidos, Alemanha e Holanda.
Desde o fim da década de 1970, Telles Ribeiro tem trabalhado com temas afeitos às relações culturais do Brasil. Seu livro “Diplomacia Cultural: seu papel na política externa brasileira” foi publicado, em 1989, em uma tradicional edição da Fundação Alexandre de Gusmão, e trazia as reflexões, até aquele momento, do então Conselheiro da carreira diplomática.
Telles Ribeiro escrevia, naquele momento, em um mundo em que a Internet ainda não havia se popularizado para além os meios militares e acadêmicos, e em que o tema da globalização ainda não havia se tornado recorrente na imprensa e nos trabalhos dos intelectuais. O Mercosul não existia, e, no ordenamento jurídico interno, não havia leis de incentivo à cultura nos moldes da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual. Dessa forma, poder-se-ia dar a impressão de que o livro está ultrapassado e fora de contexto. Entretanto, as bases conceituais e estratégicas sobre o tema, ali presentes, sobreviveram ao tempo e ganharam relevância.
Não se trata de obra que aprofunde a discussão sobre o conceito de cultura. A bibliografia utilizada no estudo traz autores ligados não à antropologia, mas à política e às relações internacionais. Em vez da interpretação das culturas de Clifford Geertz, o texto tem como base Charles Frankel, relatórios da UNESCO, Celso Furtado e até T.S.Eliot. Em breves três páginas, Telles Ribeiro admite “tomar de empréstimo à antropologia sua concepção mais básica de cultura”, que seria a “soma dos hábitos, costumes e realizações de um indivíduo, uma comunidade, um povo, ao longo de sua história”. Essa definição simples serve aos propósitos do estudo, a discussão dos parâmetros de desenvolvimento da diplomacia cultural.
O autor reconhece e reforça as duas grandes frentes de ação da diplomacia cultural. Por um lado, pode ser utilizada como um instrumento de aproximação entre os povos, de amenização das desconfianças mútuas e de fomento à cooperação internacional em causas comuns como a luta pela paz e a preservação do meio ambiente. Por outro lado, a consecução de objetivos nacionais de natureza diversa da cultural – prioridades políticas, econômicas e comerciais – pode encontrar nas ações da diplomacia cultural poderoso mediador e aliado.
Além disso, é defendida a tese de que, ao promover seus bens culturais no exterior, os países reafirmam permanentemente suas identidades nacionais. A diplomacia cultural do Brasil, ao trabalhar além das fronteiras do país, seria parte de nossa consolidação interna. Esse duplo efeito teria maior eficácia quanto mais as linhas de ação refletissem a diversificada realidade cultural brasileira. O Ministério das Relações Exteriores possuiria, pois, papel singular também em áreas da política cultural interna do país.
Passadas quase duas décadas da publicação de “Diplomacia Cultural”, a escassez bibliográfica acusada no prefácio de Sergio Rouanet permanece. Fica o convite para que Telles Ribeiro e outros diplomatas e acadêmicos atualizem o tema, incorporando novas abordagens das relações internacionais – como, por exemplo, o modelo de “poder estrutural” de Susan Strange – a suas contribuições. Em tempos de diplomacia dos povos, nada parece mais justificável.
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CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II. Série Perfis Brasileiros, Rio de Janeiro: Cia das Letras, 2007.
Maurício Costa
A história do Brasil contada do ponto de vista do Imperador ou a vida do Imperador contada de acordo com a história do Brasil? A biografia de D.Pedro II, escrita por José Murilo de Carvalho, é uma resposta afirmativa a ambas as perguntas. Da abdicação do pai ao ocaso do Império no simbólico baile da Ilha Fiscal, acompanhamos, ao mesmo tempo, o processo histórico e os sentimentos de um homem que confundiu sua vida com a vida política do País.
A obra de José Murilo de Carvalho é um exercício historiográfico de alto grau de dificuldade. O autor elaborou seu trabalho com base nos diários e cartas de D. Pedro II, bem como em uma ampla consulta bibliográfica e em diversas outras fontes primárias. A narrativa é fluida, quase literária, muito embora não lhe escapem a precisão dos fatos e o viés analítico do historiador. O autor é bem sucedido na tarefa de conciliar os processos, os personagens, os sentimentos e as convicções na condução da narrativa.
O medo dos canhões, a coroação e o choro de um menino de cinco anos em 1831 se misturam à necessidade de manutenção da unidade nacional, à instabilidade política e ao processo de consolidação do Brasil independente. Pedro de Alcântara, o imperador criança, seria um dos estadistas mais respeitados do mundo. D.Pedro II seria um homem de amores impulsivos, de amor duradouro pela Condessa de Barral, frustrado por não ter a oportunidade de viver como um cidadão comum.
Ao longo da narrativa, conhecemos o D. Pedro II apaixonado pelas letras e pelas artes, homem culto e de convicções fortes. Esse mesmo D.Pedro II também nos é apresentado como um homem de princípios políticos claros, exasperado com a hipocrisia dos políticos profissionais, absorto pelos problemas do país e apaixonado pelo Brasil. Um D. Pedro II diferente daquele personagem dos livros escolares nos é revelado quando seus amores, suas paixões e seus desejos são narrados de próprio punho em suas cartas e em seu diário pessoal.
A história pessoal tem como pano de fundo os principais fatos históricos de seus quarenta e nove anos de reinado: a maioridade, a consolidação da unidade nacional, as políticas intervencionistas na Bacia do Rio da Prata, a Guerra do Paraguai, as relações com a Inglaterra, a questão religiosa, a questão da abolição, o republicanismo e. as contradições do poder moderador. A voz de Pedro de Alcântara, homem comum e Imperador, com mediação de José Murilo de Carvalho, expressa seus sentimentos e convicções em relação a tais eventos e contribui para esclarecer muitas dúvidas a respeito de interpretações de seus atos como governante do Brasil.
A doença, a decadência de sua capacidade para unir as elites políticas, a queda e o exílio dão ao epílogo da obra de José Murilo de Carvalho, assim como ao epílogo da vida de Pedro de Alcântara, um tom melancólico que parecia prenunciar o caos que se instalaria no Brasil republicano. A morte de D. Pedro II não é o fim de sua história, mas o início da recuperação da imagem de estadista, de político e de maior personalidade brasileira do século XIX, quem sabe a maior de nossa curta história como nação independente.
D. Pedro II, da série Perfis Brasileiros, é uma biografia de altíssima qualidade que merece a atenção dos leitores, tanto pela beleza da história que é contada quanto pelo talento do historiador José Murilo de Carvalho, um de nossos maiores especialistas em história do Império.
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Barboza, Mario Gibson. Na Diplomacia, o Traço Todo da Vida. Rio de Janeiro: Record, 1992.
Resenha
Fábio Simão Alves
O historiador e escritor escocês Thomas Carlyle disse uma vez que “uma vida bem escrita é quase tão rara como uma vida bem vivida”. Avaliada a partir dessas palavras, “Na Diplomacia, o Traço Todo da Vida” é, certamente, uma daquelas obras raras, ou melhor, duplamente raras: o livro do ex-chanceler Mario Gibson Barboza é uma vida bem escrita a respeito de uma vida bem vivida.
A obra de Mario Gibson não é, a bem da verdade, uma autobiografia, mas, antes, um livro de impressões, um livro de memórias do tipo incomum: “Na Diplomacia...” é muito mais uma história fatual da política externa do Brasil, durante um período de mais de meio século (1940-1992), do que a história da vida de um homem. Mario Gibson se coloca como o co-adjuvante de um enredo em que a Diplomacia brasileira é a personagem principal.
Mario Gibson Barboza é uma das figuras mais destacadas da Diplomacia brasileira contemporânea. Ingresso no serviço exterior em 1940, galgou ao longo de cinco décadas os postos mais importantes da carreira: ministro-conselheiro nas Nações Unidas; Embaixador em Washington, Londres e Roma; Chefe de Gabinete nas gestões Raul Fernandes, Afonso Arinos e San Tiago Dantas; Secretário-Geral na gestão Magalhães Pinto; e, finalmente, Ministro de Estado das Relações Exteriores no governo Médici. Mais importantes do que sua trajetória pessoal, no entanto, foram as profundas transformações por que passou o Brasil no período que coincide com sua carreira, e que são, na realidade, o fio condutor de seu livro.
Com elegância e sensibilidade, Mario Gibson descreve algumas das figuras mais importantes de nossa Diplomacia: suas páginas trazem ricas histórias de Raul Fernandes (“o homem que viria a ser tão importante em minha vida, que me daria todo seu afeto de pai que nunca foi, que exerceria tão forte fascínio sobre mim e seria determinante na minha carreira diplomática”) e San Tiago Dantas (“depois que o encontrei, tanto sua figura de homem público como sua persona me foram sendo reveladas no que para mim ficou sendo a minha verdade [...]. Como e quando se organizará novamente um ser tão excepcional?”). Não faltam tampouco análises penetrantes das mais variadas personalidades políticas, do Brasil e do mundo, que Mario Gibson conheceu durante sua carreira: Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Emílio Médici, Delfim Netto, Golda Meir, Henry Kissinger, Richard Nixon, Anwar Sadat...
Exibe uma visão abrangente e perspicaz quando analisa os principais momentos da política externa brasileira na segunda metade do século XX. De forma bastante modesta, põe-se no lugar de observador, mesmo nos momentos em que atuou de forma decisiva, para oferecer ao leitor um relato preciso de momentos fundamentais da Diplomacia brasileira, como o lançamento da Operação Pan-Americana, a expulsão do governo cubano da OEA, o lançamento da idéia de Itaipu, a transferência do Itamaraty para Brasília, o lançamento da Diplomacia do Interesse Nacional no governo Médici, as crises com os Estados Unidos nos anos 70, a consolidação da política africana na Diplomacia brasileira. Sua perspectiva de participante de todos esses momentos oferece ao leitor uma nova visão dos fatos, que perdem parte do caráter formal que imprimem os manuais de História Diplomática para, quase que romanceados – sem prescindir, no entanto, de fidedignidade – assumirem uma proximidade que atrai o leitor para dentro dos acontecimentos, tornando-os muito mais interessantes à medida que se revelam mais e mais próximos.
No livro, não faltam passagens que desvendam momentos de bastidores da Diplomacia, sem que o autor, no entanto, se incline para a vulgaridade do gossip, tão ao gosto de muitos (pseudo-)escritores de memórias, inclusive ex-diplomatas... Uma das mais interessantes, reveladora do caráter de Mario Gibson e de seu amor pela Casa, é um diálogo que teve com o Presidente Médici, em 1971, a respeito de críticas que o então super-ministro Delfim Netto tecera à política africana lançada pelo Itamaraty. O Chanceler, ultrajado pelas críticas de Delfim, mandara o Secretário-Geral, Embaixador Jorge de Carvalho e Silva, rebatê-las por meio de nota à imprensa, o que desagradou ao Presidente. Repreendido fortemente por Médici, Gibson assumiu posição de resistência decidida: “Olha, Presidente, vamos fazer um acordo? O senhor fala com o Delfim Netto para não se meter no Itamaraty. Ele se mete em todos os Ministérios, eu não tenho nada a ver com isso. Mas no meu não se mete”. Ao que Médici respondeu, sorrindo, de forma surpreendente para o próprio autor: “Você é um pernambucano de sangue muito quente. É pior do que no Rio Grande!”.
É com clareza, sensibilidade para os fatos e as pessoas e, mesmo, certa informalidade que Mario Gibson tece em sua obra um quadro de impressões nítidas sobre os cinqüenta anos de Diplomacia brasileira dos quais foi co-adjuvante – ora secundário, ora principal, mas sempre um co-adjuvante. “Não pretendi fazer desta narrativa uma autobiografia, nem tampouco um livro de memórias”, escreve-nos Gibson. Não há no livro sua história; o que há ali são, como reconhece o ex-Chanceler, “minhas histórias”. Histórias da Diplomacia, que se confundem com a história da vida de um homem excepcional. A obra revela, talvez, a sina de todo diplomata: suas vidas pessoal e profissional inevitavelmente se confundem, a ponto de ser uma única vida, vida esta cujo “traço todo” está fadado a ser a Diplomacia.
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SARAIVA GUERREIRO, Ramiro. Lembranças de um empregado do Itamaraty. São Paulo: Siciliano, 1992.
Gustavo dos Santos Pereira
A obra Lembranças de um empregado do Itamaraty, do diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores Ramiro Saraiva Guerreiro, ao lado das memórias do embaixador Gibson Barbosa (Na diplomacia, o traço todo da vida), constitui retrato fiel da atuação do Itamaraty na década de 70 e no início dos anos 80, período dos mais significativos para a redefinição da política externa brasileira.
O título da obra, segundo o próprio diplomata, remete a uma expressão comumente usada pelo embaixador Cyro de Freitas-Valle, a quem credita muito do que sabe e a quem considera um mentor intelectual e profissional. Nas próprias palavras de Guerreiro, “não há capacidade de mando se antes não se obedeceu”; para ele, portanto, a expressão “empregado do Itamaraty” reveste-se de um tom de humildade e revela o espírito de aprendizado árduo do qual está imbuída a profissão de diplomata.
Ao longo do texto, damo-nos conta facilmente de que Saraiva Guerreiro tem a preocupação de convidar o leitor a adentrar o universo de suas memórias. É inegável a estratégia de ambientação que o ex-ministro adota para que o leitor se sinta familiarizado com os conceitos que norteavam a diplomacia brasileira na época em foco. Terceiro-mundismo, política externa independente, desenvolvimento, não-alinhamento são conceitos manuseados com habilidade e conhecimento de causa pelo autor de maneira a trazer o leitor ao pensamento do Itamaraty no período do chamado “pragmatismo responsável” em política externa.
Saraiva Guerreiro teve uma brilhante carreira. Serviu em Washington, Paris e Nova Iorque, na missão junto a ONU, e tornou-se conhecido por sua atuação como secretário-geral da casa (de 1974 a 1979) durante o governo Geisel e como ministro das Relações Exteriores do governo Figueiredo (de 1979 a 1985). Testemunhou, nessas altas funções, episódios da política internacional tão marcantes quanto a Guerra das Malvinas ou a formação do Grupo de Contadora, de apoio à pacificação dos países da América Central. É sobre esse período que transcorrem as histórias e relatos da obra, sempre pontilhadas pelo bom-humor que é habitual a Saraiva Guerreiro.
Um dos trunfos de sua estratégia discursiva é evitar que o livro siga um roteiro cronológico. Com efeito, Saraiva Guerreiro nos brinda com suas ricas experiências e as anedotas saborosas sem preocupar-se com qualquer tipo de ordem ou plano. O livro atrai o leitor ao aproximar-se do fluxo de consciência, ao acercar-se quase de um relato leve de quem toma uma caneta à mão e desata a escrever. Ressalte-se, contudo, que se há divisões em Memórias de um empregado do Itamaraty, essas são temáticas, por opção didática expressa do autor.
É interessante notar que o ex-ministro de Estado, entre uma anedota e outra, defende a idéia de que o “pragmatismo responsável” é uma releitura crítica da antiga “política externa independente”, e não significa outra coisa senão uma natural adaptação do Itamaraty aos novos desafios do mundo da détente, sem abandonar suas tradições. Nas entrelinhas do seu discurso, extrai-se o âmago da política externa que ajudou a elaborar: uma opção deliberada por aquilo que hoje se chama de “Sul”, e um certo ressentimento para com um “Norte” incapaz de contribuir para satisfazer as necessidades próprias de um país em desenvolvimento como o Brasil.O livro de Saraiva Guerreiro é conciso, elucidativo e de leitura extremamente agradável e lúdica. Mais do que isso, o livro ganha um interesse especial já que trata de uma época que se constitui como embrião da atual política externa brasileira: Memórias de um empregado do Itamaraty prova como esta é herdeira da política externa do Itamaraty dos anos 70, e como a continuidade tão cara a esse ministério não é apenas um discurso retórico.
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Diplomacia Cultural, de Edgard Telles Ribeiro
D. G. Ducci
O chanceler Celso Amorim tem reiterado que o processo de integração sul-americana não deve ser apenas um projeto de governos e de empresários, mas também dos povos e das civilizações. Não basta que os presidentes e os políticos sejam integracionistas; é preciso, nas palavras do ministro, que o “guarda da esquina” também o seja. Mudanças no pensamento e nas atitudes das populações significam aquisições de traços culturais diferenciados. Amorim, que construiu boa parte de sua carreira preocupado com os temas da diplomacia cultural, sabe muito bem disso.
Outro profundo conhecedor dos meandros da ação diplomática no campo da cultura é o Embaixador Edgard Telles Ribeiro. Assim como Amorim, Telles Ribeiro tem sua carreira ligada à área cultural do Itamaraty. Além de diplomata, é romancista e contista, tendo publicado cerca de uma dezena de livros na última década e meia. Sua obra – estranhamente menos conhecida do grande público do que deveria – já foi publicada em diversos países, como Estados Unidos, Alemanha e Holanda.
Desde o fim da década de 1970, Telles Ribeiro tem trabalhado com temas afeitos às relações culturais do Brasil. Seu livro “Diplomacia Cultural: seu papel na política externa brasileira” foi publicado, em 1989, em uma tradicional edição da Fundação Alexandre de Gusmão, e trazia as reflexões, até aquele momento, do então Conselheiro da carreira diplomática.
Telles Ribeiro escrevia, naquele momento, em um mundo em que a Internet ainda não havia se popularizado para além os meios militares e acadêmicos, e em que o tema da globalização ainda não havia se tornado recorrente na imprensa e nos trabalhos dos intelectuais. O Mercosul não existia, e, no ordenamento jurídico interno, não havia leis de incentivo à cultura nos moldes da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual. Dessa forma, poder-se-ia dar a impressão de que o livro está ultrapassado e fora de contexto. Entretanto, as bases conceituais e estratégicas sobre o tema, ali presentes, sobreviveram ao tempo e ganharam relevância.
Não se trata de obra que aprofunde a discussão sobre o conceito de cultura. A bibliografia utilizada no estudo traz autores ligados não à antropologia, mas à política e às relações internacionais. Em vez da interpretação das culturas de Clifford Geertz, o texto tem como base Charles Frankel, relatórios da UNESCO, Celso Furtado e até T.S.Eliot. Em breves três páginas, Telles Ribeiro admite “tomar de empréstimo à antropologia sua concepção mais básica de cultura”, que seria a “soma dos hábitos, costumes e realizações de um indivíduo, uma comunidade, um povo, ao longo de sua história”. Essa definição simples serve aos propósitos do estudo, a discussão dos parâmetros de desenvolvimento da diplomacia cultural.
O autor reconhece e reforça as duas grandes frentes de ação da diplomacia cultural. Por um lado, pode ser utilizada como um instrumento de aproximação entre os povos, de amenização das desconfianças mútuas e de fomento à cooperação internacional em causas comuns como a luta pela paz e a preservação do meio ambiente. Por outro lado, a consecução de objetivos nacionais de natureza diversa da cultural – prioridades políticas, econômicas e comerciais – pode encontrar nas ações da diplomacia cultural poderoso mediador e aliado.
Além disso, é defendida a tese de que, ao promover seus bens culturais no exterior, os países reafirmam permanentemente suas identidades nacionais. A diplomacia cultural do Brasil, ao trabalhar além das fronteiras do país, seria parte de nossa consolidação interna. Esse duplo efeito teria maior eficácia quanto mais as linhas de ação refletissem a diversificada realidade cultural brasileira. O Ministério das Relações Exteriores possuiria, pois, papel singular também em áreas da política cultural interna do país.
Passadas quase duas décadas da publicação de “Diplomacia Cultural”, a escassez bibliográfica acusada no prefácio de Sergio Rouanet permanece. Fica o convite para que Telles Ribeiro e outros diplomatas e acadêmicos atualizem o tema, incorporando novas abordagens das relações internacionais – como, por exemplo, o modelo de “poder estrutural” de Susan Strange – a suas contribuições. Em tempos de diplomacia dos povos, nada parece mais justificável.
sábado, 27 de outubro de 2007
DICAS DE PORTUGUÊS PARA O TPS
Chegamos ao último texto referente a TPS. Mais uma vez, destaco que minhas dicas se baseiam no TPS 2007 e na premissa de que o CESPE continuará realizando as provas. Não se esqueçam de que nenhum dos últimos 7 TPS's foi igual e que poderá haver mudanças. Não negligenciem nenhuma matéria do programa do concurso em função do TPS!
Vamos, então, ao tema principal deste texto, a prova de português.
Acredito que português é uma das poucas matérias do concurso para qual o estudo individual é pouco produtivo. É muito necessário ter um bom professor, que possa esclarecer dúvidas sobre as minúcias e, principalmente, explicar os motivos pelos quais erramos e pelos quais acertamos (muitas vezes acertamos sem saber a razão e em outra oportunidade erramos a mesma questão). Ler gramáticas ajuda pouco e ainda cria uma antipatia crescente pela matéria.
O método mais eficiente para o estudo de português é o de solução de exercícios. O CESPE disponibiliza em sua página centenas de provas dos mais variados concursos públicos. Faça todas quantas forem possíveis. Não importa qual concurso seja, se é de nível médio ou superior ou se tem relação ou não com a carreira do erviço exterior. Tribunais, agências reguladoras, vestibulares, ministério público... As provas do CESPE mantêm um padrão de abordagem, de temas e de formulação de enunciados. Eu mesmo resolvi mais de 100 provas de português do CESPE. A cada dúvida, ia até minha professora discutir e aprender os motivos que basearam o gabarito da banca. Treino até o cansaço é a solução: repetição, absorção e observação dos padrões da prova.
Alguns tópicos são mais difíceis e mais polêmicos, mas são facilmente sanáveis pela adequação aos padrões da prova. Vamos a eles:
1-Pontuação: muitas "cascas de banana" aprecem com o uso de travessão, parênteses e vírgula, muitas vezes o uso misto das três coisas. É importante estudar bem esse tópico, pois é muito recorrente. Numa prova objetiva, sempre é bom lembrar que aquilo que as gramáticas definem como facultativo É CORRETO. Não tenham dúvidas ao marcar a opção. Em questões do tipo "avalie a correção gramatical dos trechos seguintes", o uso dessas "cascas de banana" é MUITO RECORRENTE. O jeito é decorar as minúicas das "regrinhas" e resolver exercícios, pois podem valer os preciosos 0,25 pontos que deixaram 8500 pessoas de fora da segunda fase em 2007;
2-Interpretação de texto: não se trata de algo "ensinável" ou completamente "treinável". O processo cognitivo de cada indivíduo influencia o resultado. É possível, entretanto, reduzir as dificuldades com muita atenção e exercício. Para facilitar, o estudo da diferença entre dedução, inferência e conclusão a partir de um texto é fundamental para evitar erros bobos de interpretação;
3-Regência e concordância: muitos erros comuns são resultantes do uso corrente de algumas expressões na linguagem oral que não estão de acordo com a norma culta. Muita atenção com a concordância e, principalmente, com o uso de preposições;
4-Acentuação: crase, sem dúvidas, é a maior dificuldade nesse tópico. É importante decorar todas as regras de facultatividade e obrigatoriedade do uso, bem como as exceções, para não perder pontos. Em geral são questões difíceis;
5-Nexos lógicos: conjunções e pronomes comumente são difícies, principalmente porque as provas do CESPE pedem que reconheçamos as funções exercidas por uma palavara ("que", por exemplo, pode ser conjunção integrante ou pronome relativo, muita atenção também com o uso do "se"). É importantíssimo conhecer os usos corretos das conjunções, pois na linguagem oral temos diversos vícios de linguagem que nos induzem ao erro quando estamos respondendo uma questão de acordo com a normal culta. MUITO CUIDADO!
Minhas sugestões não são exaustivas, evidentemente. Todo o programa de português deve estar "na ponta da língua", ou da caneta, para se fazer a prova. Tentei apenas esclarecer alguns pontos cruciais das provas de português do CESPE, já que resolvi mais de 100 delas durante a minha preparação. O resultado foi uma elevação na minha média de desempenho que me deixou acima dos 90% de acertos. Português tem correspondido a 20 pontos dos 65 totais nos dois últimos TPS's, um bom desempenho pode ser decisivo na aprovação.
Ufa, demorou, mas terminei a série TPS. A partir do próximo texto voltamos a questões mais gerais.
Vamos, então, ao tema principal deste texto, a prova de português.
Acredito que português é uma das poucas matérias do concurso para qual o estudo individual é pouco produtivo. É muito necessário ter um bom professor, que possa esclarecer dúvidas sobre as minúcias e, principalmente, explicar os motivos pelos quais erramos e pelos quais acertamos (muitas vezes acertamos sem saber a razão e em outra oportunidade erramos a mesma questão). Ler gramáticas ajuda pouco e ainda cria uma antipatia crescente pela matéria.
O método mais eficiente para o estudo de português é o de solução de exercícios. O CESPE disponibiliza em sua página centenas de provas dos mais variados concursos públicos. Faça todas quantas forem possíveis. Não importa qual concurso seja, se é de nível médio ou superior ou se tem relação ou não com a carreira do erviço exterior. Tribunais, agências reguladoras, vestibulares, ministério público... As provas do CESPE mantêm um padrão de abordagem, de temas e de formulação de enunciados. Eu mesmo resolvi mais de 100 provas de português do CESPE. A cada dúvida, ia até minha professora discutir e aprender os motivos que basearam o gabarito da banca. Treino até o cansaço é a solução: repetição, absorção e observação dos padrões da prova.
Alguns tópicos são mais difíceis e mais polêmicos, mas são facilmente sanáveis pela adequação aos padrões da prova. Vamos a eles:
1-Pontuação: muitas "cascas de banana" aprecem com o uso de travessão, parênteses e vírgula, muitas vezes o uso misto das três coisas. É importante estudar bem esse tópico, pois é muito recorrente. Numa prova objetiva, sempre é bom lembrar que aquilo que as gramáticas definem como facultativo É CORRETO. Não tenham dúvidas ao marcar a opção. Em questões do tipo "avalie a correção gramatical dos trechos seguintes", o uso dessas "cascas de banana" é MUITO RECORRENTE. O jeito é decorar as minúicas das "regrinhas" e resolver exercícios, pois podem valer os preciosos 0,25 pontos que deixaram 8500 pessoas de fora da segunda fase em 2007;
2-Interpretação de texto: não se trata de algo "ensinável" ou completamente "treinável". O processo cognitivo de cada indivíduo influencia o resultado. É possível, entretanto, reduzir as dificuldades com muita atenção e exercício. Para facilitar, o estudo da diferença entre dedução, inferência e conclusão a partir de um texto é fundamental para evitar erros bobos de interpretação;
3-Regência e concordância: muitos erros comuns são resultantes do uso corrente de algumas expressões na linguagem oral que não estão de acordo com a norma culta. Muita atenção com a concordância e, principalmente, com o uso de preposições;
4-Acentuação: crase, sem dúvidas, é a maior dificuldade nesse tópico. É importante decorar todas as regras de facultatividade e obrigatoriedade do uso, bem como as exceções, para não perder pontos. Em geral são questões difíceis;
5-Nexos lógicos: conjunções e pronomes comumente são difícies, principalmente porque as provas do CESPE pedem que reconheçamos as funções exercidas por uma palavara ("que", por exemplo, pode ser conjunção integrante ou pronome relativo, muita atenção também com o uso do "se"). É importantíssimo conhecer os usos corretos das conjunções, pois na linguagem oral temos diversos vícios de linguagem que nos induzem ao erro quando estamos respondendo uma questão de acordo com a normal culta. MUITO CUIDADO!
Minhas sugestões não são exaustivas, evidentemente. Todo o programa de português deve estar "na ponta da língua", ou da caneta, para se fazer a prova. Tentei apenas esclarecer alguns pontos cruciais das provas de português do CESPE, já que resolvi mais de 100 delas durante a minha preparação. O resultado foi uma elevação na minha média de desempenho que me deixou acima dos 90% de acertos. Português tem correspondido a 20 pontos dos 65 totais nos dois últimos TPS's, um bom desempenho pode ser decisivo na aprovação.
Ufa, demorou, mas terminei a série TPS. A partir do próximo texto voltamos a questões mais gerais.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
DICAS DE POLÍTICA INTERNACIONAL PARA O TPS
Estou de volta, caros amigos, depois de um silêncio compulsório causado pelo período de provas no IRBr. Felizmente, ou não, quem me conhece sabe que não duraria muito minha ausência dos debates. Vamos, então, ao que mais nos interessa, a prova de Politica Internacional no TPS.
Eu acredito que PI seja a disciplina mais difícil de se estudar para o TPS. O programa é extenso, tem muitos tópicos de relações bilaterais, muitas questões internacionais contemporâneas, teoria das relações internacionais e muitos pontos do programa coincidem com geografia e história até mesmo na bibliografia indicada.Cuidado meu caros, muito cuidado. O fato de o programa coincidir com outras disciplinas pouco significa. A abordagem de cada uma das disciplinas é muito diferente.
Nunca esqueça de duas premissas fundamentais: a prova é baseada na discussão dos INTERESSES BRASILEIROS e é elaborada pelo CESPE. Dito isso, vamos às dicas de leitura.
1- RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL-TEMAS E AGENDAS (Lessa e Altemani): não tenha dúvidas, e a nova bíblia da disciplina. Além de ser editado pela UNB, um dos organizadores é membro da banca. Absolutamente TODOS OS TEMAS estão discutidos ali. Todos os grandes nomes em PI no Brasil publicam artigos na obra. Para que vocês tenham uma ilustração do quão importante é a leitura dessa obra, apenas ela, entre TODA A BIBLIOGRAFIA, faz alguma menção do conceito de "grande oriente médio" (questão de geopolítca na prova de geografia do CACD 2007). Os 2 volumes foram editados depois do TPS e antes da terceira fase em 2007. São indispensáveis, fundamentais, obrigatórios.
2- THE GLOBALIZATION OF WORLD POLITICS(Org. por John Baisley): é, sem dúvida, um manual indispensável. Todos os tópicos indispensáveis em termos de política mundial ali estão contemplados, incluindo teoria. Não há substituto melhor para a ampla bibliografia de TRI indicada, mas que de pouco servirá para uma preparação mais objetiva e bem focada. Para os que não são formados em RI, o livro é um verdadeiro portal dimensional do conhecimento. A indicação do meu amigo Ney Canany foi preciosa quando PI foi inserida n TPS.
3- POLÍTICA INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEA(Altemani): uma boa versão sintética da primeira indicação, ajuda muito, mas é insuficiente em si mesma.
A leitura regular do RELNET, dos principais jornais internacionais, do site da ONU, dos discursos do nosso ministro e do nosso presidente são também fundamentais. Mantenha-se informado e atento sobre os mínimos detalhes de todos os temas internacionais. A leitura da Revista de Política Externa também colabora para a compressão de diversos temas estratégicos.
Acho que com essas indicações é possível fazer um bom TPS em PI. Parece muito? Ninguém disse que seria fácil, disse?
PS: antes que eu esqueça, a prova de PI do concurso do TCU, disponível no site do CESPE, é uma excelente e segura indicação da tendência da banca que a elabora.
Agora sim, por hoje é só, pessoal!
Eu acredito que PI seja a disciplina mais difícil de se estudar para o TPS. O programa é extenso, tem muitos tópicos de relações bilaterais, muitas questões internacionais contemporâneas, teoria das relações internacionais e muitos pontos do programa coincidem com geografia e história até mesmo na bibliografia indicada.Cuidado meu caros, muito cuidado. O fato de o programa coincidir com outras disciplinas pouco significa. A abordagem de cada uma das disciplinas é muito diferente.
Nunca esqueça de duas premissas fundamentais: a prova é baseada na discussão dos INTERESSES BRASILEIROS e é elaborada pelo CESPE. Dito isso, vamos às dicas de leitura.
1- RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL-TEMAS E AGENDAS (Lessa e Altemani): não tenha dúvidas, e a nova bíblia da disciplina. Além de ser editado pela UNB, um dos organizadores é membro da banca. Absolutamente TODOS OS TEMAS estão discutidos ali. Todos os grandes nomes em PI no Brasil publicam artigos na obra. Para que vocês tenham uma ilustração do quão importante é a leitura dessa obra, apenas ela, entre TODA A BIBLIOGRAFIA, faz alguma menção do conceito de "grande oriente médio" (questão de geopolítca na prova de geografia do CACD 2007). Os 2 volumes foram editados depois do TPS e antes da terceira fase em 2007. São indispensáveis, fundamentais, obrigatórios.
2- THE GLOBALIZATION OF WORLD POLITICS(Org. por John Baisley): é, sem dúvida, um manual indispensável. Todos os tópicos indispensáveis em termos de política mundial ali estão contemplados, incluindo teoria. Não há substituto melhor para a ampla bibliografia de TRI indicada, mas que de pouco servirá para uma preparação mais objetiva e bem focada. Para os que não são formados em RI, o livro é um verdadeiro portal dimensional do conhecimento. A indicação do meu amigo Ney Canany foi preciosa quando PI foi inserida n TPS.
3- POLÍTICA INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEA(Altemani): uma boa versão sintética da primeira indicação, ajuda muito, mas é insuficiente em si mesma.
A leitura regular do RELNET, dos principais jornais internacionais, do site da ONU, dos discursos do nosso ministro e do nosso presidente são também fundamentais. Mantenha-se informado e atento sobre os mínimos detalhes de todos os temas internacionais. A leitura da Revista de Política Externa também colabora para a compressão de diversos temas estratégicos.
Acho que com essas indicações é possível fazer um bom TPS em PI. Parece muito? Ninguém disse que seria fácil, disse?
PS: antes que eu esqueça, a prova de PI do concurso do TCU, disponível no site do CESPE, é uma excelente e segura indicação da tendência da banca que a elabora.
Agora sim, por hoje é só, pessoal!
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
DICAS PARA HISTÓRIA MUNDIAL NO TPS
História Mundial é uma matéria importante na primeira fase do CACD. No atual modelo do concurso, HM aparece somente no TPS como matéria específica, o que aumenta significativamente sua importância estratégica. Além de ser um suporte mais do que necessário para Política Internacional, a prova de HM pode contribuir para a compensação de algumas "cascas de banana" nas provas de português e inglês.
Quem me conhece sabe que defendo ferrenhamente a leitura das quatro Eras, de Hobsbawn, para o TPS. Sim, há pessoas que foram aprovadas no TPS sem nunca terem sequer passado perto de um exemplar das Eras. Tais aprovados, entretanto, certamente não tinham graves limitações em inglês e podiam se dar ao luxo de arriscar o erro em uma ou duas questões de HM ou, simplesmente, a sorte os ajudou. Infelizmente, tenho amigos que foram eliminados no TPS 2007 por discordarem da interpretação da resposta do gabarito oficial. E a interpretação coincide com a de Hobsbawn... Seria por acaso?
História é uma disciplina controversa, ninguém discorda disso. No TPS, entretanto, precisamos responder a uma prova que nos cobra o "certo ou errado". Para piorar a situação, a bibliografia é contraditória: muitos autores dizem exatamente o contrário de outros. É preciso, portanto, mais do que estudar para a prova, ESTUDAR A PROVA. Os concursos cujo TPS foi elaborado pelo CESPE, desde 2003/2, sistematicamente adotam as interpretações das Eras: textos motivadores, periodizações, interpretações dos processos... Tudo coincide com as Eras!
Acredito que não há na bibliografia de HM nenhuma outra obra de tanto fôlego a respeito dos principais temas históricos dos últimos 250 anos de história.Os principais fatos e processos ali estão debatidos, da política à cultura (cultura está no programa, fiquem atentos pra isso, algo me diz que vai ressurgir no próximo ano). A recomendação que faço é de ler cada uma das Eras duas vezes, se possivel. É muito importante ficar atento às interpretações dadas por Hobsbawn a muitos fatos (este ano a tomada do poder pelos fascistas italianos foi tema polêmico na prova, mas o gabarito está de acordo com Hobsbawn). Outras obras podem ser utilizadas subsidiariamente para a consoidação das cronologias e dos fatos, mas nunca esqueça que as interpretações são das Eras!
Se você não gostar da leitura ou discordar, que pena... he he he! Eu não gostei de muita coisa que li e discordei de muitas outras, mas o momento de discordar não é a prova. No concurso, o importante é ser aprovado.
Para além das quatro Eras... Vamos a recomendações de leitura complementar:
Sombra Saraiva-Relações Internacionais-Dois Séculos de História: tão indispensável quanto Hobsbawn (nunca esqueçam que o CESPE é da UnB);
Paulo Vizentini-História do Século XX, O Descompasso Entre as Nações, Da Gerra Fria à Crise: são livros úteis para uma boa revisão. Vizentini tem um poder de síntese louvável, sem passar nem perto da mediocridade;
Tulio Halperin Donghi- História da América Latina: é o segundo pior livro que li em toda bibliografia em termos de qualidade de escrita, mas a quantidade de informação é realmente incomparável. Para HAL eu considero indispensável.
Hobsbawn-Nações e Nacionalismo: dispensa apresentações. Desenvolve com profundidade uma parte importante das Eras a respeito da formação dos estados nacionais.
Há outras leituras que fiz, mas que não considero indipensáveis para um TPS seguro em HM. Espero que esta lista ajude a direcionar as leituras.
Por último, não esqueçam, muitos dos tópicos de HM coincidem com PI e muitas indicações de bibliografia do concurso fazem parte do programa de ambas as disciplinas. Muita atenção, meus caros, pois um bom estudo de HM pode garantir os décimos que vão eliminar seus concorrentes.
Quem me conhece sabe que defendo ferrenhamente a leitura das quatro Eras, de Hobsbawn, para o TPS. Sim, há pessoas que foram aprovadas no TPS sem nunca terem sequer passado perto de um exemplar das Eras. Tais aprovados, entretanto, certamente não tinham graves limitações em inglês e podiam se dar ao luxo de arriscar o erro em uma ou duas questões de HM ou, simplesmente, a sorte os ajudou. Infelizmente, tenho amigos que foram eliminados no TPS 2007 por discordarem da interpretação da resposta do gabarito oficial. E a interpretação coincide com a de Hobsbawn... Seria por acaso?
História é uma disciplina controversa, ninguém discorda disso. No TPS, entretanto, precisamos responder a uma prova que nos cobra o "certo ou errado". Para piorar a situação, a bibliografia é contraditória: muitos autores dizem exatamente o contrário de outros. É preciso, portanto, mais do que estudar para a prova, ESTUDAR A PROVA. Os concursos cujo TPS foi elaborado pelo CESPE, desde 2003/2, sistematicamente adotam as interpretações das Eras: textos motivadores, periodizações, interpretações dos processos... Tudo coincide com as Eras!
Acredito que não há na bibliografia de HM nenhuma outra obra de tanto fôlego a respeito dos principais temas históricos dos últimos 250 anos de história.Os principais fatos e processos ali estão debatidos, da política à cultura (cultura está no programa, fiquem atentos pra isso, algo me diz que vai ressurgir no próximo ano). A recomendação que faço é de ler cada uma das Eras duas vezes, se possivel. É muito importante ficar atento às interpretações dadas por Hobsbawn a muitos fatos (este ano a tomada do poder pelos fascistas italianos foi tema polêmico na prova, mas o gabarito está de acordo com Hobsbawn). Outras obras podem ser utilizadas subsidiariamente para a consoidação das cronologias e dos fatos, mas nunca esqueça que as interpretações são das Eras!
Se você não gostar da leitura ou discordar, que pena... he he he! Eu não gostei de muita coisa que li e discordei de muitas outras, mas o momento de discordar não é a prova. No concurso, o importante é ser aprovado.
Para além das quatro Eras... Vamos a recomendações de leitura complementar:
Sombra Saraiva-Relações Internacionais-Dois Séculos de História: tão indispensável quanto Hobsbawn (nunca esqueçam que o CESPE é da UnB);
Paulo Vizentini-História do Século XX, O Descompasso Entre as Nações, Da Gerra Fria à Crise: são livros úteis para uma boa revisão. Vizentini tem um poder de síntese louvável, sem passar nem perto da mediocridade;
Tulio Halperin Donghi- História da América Latina: é o segundo pior livro que li em toda bibliografia em termos de qualidade de escrita, mas a quantidade de informação é realmente incomparável. Para HAL eu considero indispensável.
Hobsbawn-Nações e Nacionalismo: dispensa apresentações. Desenvolve com profundidade uma parte importante das Eras a respeito da formação dos estados nacionais.
Há outras leituras que fiz, mas que não considero indipensáveis para um TPS seguro em HM. Espero que esta lista ajude a direcionar as leituras.
Por último, não esqueçam, muitos dos tópicos de HM coincidem com PI e muitas indicações de bibliografia do concurso fazem parte do programa de ambas as disciplinas. Muita atenção, meus caros, pois um bom estudo de HM pode garantir os décimos que vão eliminar seus concorrentes.
sábado, 8 de setembro de 2007
DICAS PARA A PROVA DE INGLÊS NO TPS
Inglês foi, desde o princípio, o obstáculo mais significativo durante o meu processo de preparação. Tive de investir muitas horas de estudo, alguns milhares de reais em aulas particulares e, acima de tudo, mais do que estudar para a prova, eu tive de ESTUDAR A PROVA.
É muito importante aprender a lidar com as provas de inglês do CESPE. Não importa qual seja o concurso, o candidato deve fazer todas as provas de inglês que estiverem disponíveis no site do CESPE, seja nível médio, seja nível superior.
Preposições são temas recorrentes das questões de múltipla escolha. Estude o máximo que puder, é algo que só pode ser estudado decorando a regência dos verbos.
É essencial praticar interpretação de textos com o modelo de questões de C/E. Obrigue seu professor a aprender e se especializar no estilo CESPE de prova. É fundamental o treino e a repetição.
Para adquirir vocabulário, leia os jornais on line em inglês com um dicionário eletrônico aberto para sanar as dúvidas. Se o candidato ler, por exemplo, uma reportagem do New York Times por dia durante três meses, o salto de qualidade do seu inglês será enorme. O importante é que seja feito com atenção e com a disposição de aprender.
Por fim, o uso de bons dicionários, o mais útil é o Oxford Collocations, e aulas com um bom professor particular fazem toda a diferença. Meu resultado no TPS só foi alto porque meu resultado em inglês foi acima do esperado (7,2 de 10 pontos possíveis).
Peço desculpas aos que acham as dicas óbvias, mas estão dirigidas aos que têm grande dificuldade com a língua inglesa.
É muito importante aprender a lidar com as provas de inglês do CESPE. Não importa qual seja o concurso, o candidato deve fazer todas as provas de inglês que estiverem disponíveis no site do CESPE, seja nível médio, seja nível superior.
Preposições são temas recorrentes das questões de múltipla escolha. Estude o máximo que puder, é algo que só pode ser estudado decorando a regência dos verbos.
É essencial praticar interpretação de textos com o modelo de questões de C/E. Obrigue seu professor a aprender e se especializar no estilo CESPE de prova. É fundamental o treino e a repetição.
Para adquirir vocabulário, leia os jornais on line em inglês com um dicionário eletrônico aberto para sanar as dúvidas. Se o candidato ler, por exemplo, uma reportagem do New York Times por dia durante três meses, o salto de qualidade do seu inglês será enorme. O importante é que seja feito com atenção e com a disposição de aprender.
Por fim, o uso de bons dicionários, o mais útil é o Oxford Collocations, e aulas com um bom professor particular fazem toda a diferença. Meu resultado no TPS só foi alto porque meu resultado em inglês foi acima do esperado (7,2 de 10 pontos possíveis).
Peço desculpas aos que acham as dicas óbvias, mas estão dirigidas aos que têm grande dificuldade com a língua inglesa.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
DICAS DE HISTÓRIA DO BRASIL PARA O TPS
Atendendo a pedidos, esta semana iniciarei uma série de comentários sobre as provas, matéria por matéria e fase por fase. Não tenho a menor pretensão de ser exaustivo nas minhas análises e indicações, muito menos acredito que sejam as únicas corretas. Não estou, de maneira nenhuma, publicando receitas prontas para a aprovação no concurso. O que pretendo é contribuir para que os interessados possam evitar erros recorrentes na condução do processo de preparação sem que precisem aprender com eles depois de perderem um ou dois anos de dedicação.
Começaremos hoje pela prova de história do Brasil no TPS.
O programa de HB é extenso, bem como a bibliografia indicada. É importante atentar para o fato de que boa parte da bibliografia de HB, principalmente os tópicos referentes à politica externa brasileira, coincidem com a bibliografia de política internacional. Não há como ler tudo, mas é possível otimizar o rendimento com estudo com algumas leituras imprescindíveis. Vamos a elas.
Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, História da Política Exterior do Brasil: imprescindível. Deve ser lido quantas vezes forem necessárias e decorado nos fatos e nas interpretações. Não adianta nada contestar gabarito do CESPE discordando de Amado Cervo. Leia, decore, assimile, consolide. Não tem erro.
Bóris Fausto, História do Brasil: também é imprescindível. Ao contrário do História Concisa, este manual é o mais completo, didático e bem direcionado para o conhecimento necessário de HB. Apesar de fazer uma boa cobertura de todos os períodos de HB, o "domingão da faustão" é excelente para o período republicano, nem tanto para o império e a colônia. Deve ser lido quantas vezes forem necessárias, decorado e assimilado em todos os aspectos. Os tópicos de HB não referentes à PEB são baseados em Bóris Fausto, não vai adiantar teimar com a banca depois...
As duas primeiras obras citadas, se bem lidas e assimiladas, podem garantir um TPS seguro em HB. Entretanto, meus caros, como eu não sou o tipo que conta com a sorte, vou indicar umas leiturinhas complementares que podem ajudar consolidar um ou outro aspecto do programa que não tenha ficado claro na leitura das duas bíblias de HB no TPS. Vamos a elas:
Colônia
Charles Boxer, a Idade de Ouro do Brasil: incomparável, aprofunda aspectos fundamentais do período.
Caio Prado Júnior, Formação do Brasil Contenporâneo: nenhuma outra obra apresenta uma visão tão abragente dos temas que envolvem a colônia, embora não se restrinja a tal período.
Na dúvida, é melhor ler três vezes!
Império
Maria Yeda Linhares, História Geral do Brasil: incomparável na abrangência, detalhamento e didática na análise do período. Aborda diversos aspectos que passam batidos em Bóris Fausto.
História da Política Externa Brasileira
Paulo Vizentini, Relações Internacionais do Brasil-46/64 e A Política Exterior dos Governos Militares: sem dúvidas, esses livros contribuem significativamente para sanar muitas dúvidas sobre o período do pós-guerra. Para o TPS, são mais que suficientes.
Agora vamos as tópicos que não podem ser negligenciados no "decoreba" para um bom TPS:
-Revoltas Coloniais e economia da colônia;
-Período Joanino, processo de independência;
-Sistema de tratados do Primeiro Reinado;
-Revoltas na Regência;
-Política de Limites (em todos os períodos);
-Era Vargas (decorar tudo, ou tudo o que conseguir);
-Regimes militares.
A prova de HB do CESPE é bastante factual, o ideal é decorar as cronologias. Mesmo questões interpretativas podem exigir o conhecimento factual e/ou cronológico. A prova de 2007, para ficarmos num exemplo mais próximo, teve muitas questões do tipo. Se o candidato não soubesse que o tratado de 1851 foi com o Peru, não com a Bolívia, perderia uma questão... E muita que perdeu uma questão no TPS dançou...
OBS: há obras que não citei porque não considero imprescindíveis para o TPS e serão debatidas quando chegarmos na discussão sobre a terceira fase. ;-)
Por último, um alerta: não pense que somente porque um ou outro tópico não apareceu nas duas últimas provas ele não aparecerá na próxima. É melhor estar preparado para qualquer questão. Com a disputa pela vaga no TPS cada vez mais acirrada, é sempre melhor nivelar por cima.
Começaremos hoje pela prova de história do Brasil no TPS.
O programa de HB é extenso, bem como a bibliografia indicada. É importante atentar para o fato de que boa parte da bibliografia de HB, principalmente os tópicos referentes à politica externa brasileira, coincidem com a bibliografia de política internacional. Não há como ler tudo, mas é possível otimizar o rendimento com estudo com algumas leituras imprescindíveis. Vamos a elas.
Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, História da Política Exterior do Brasil: imprescindível. Deve ser lido quantas vezes forem necessárias e decorado nos fatos e nas interpretações. Não adianta nada contestar gabarito do CESPE discordando de Amado Cervo. Leia, decore, assimile, consolide. Não tem erro.
Bóris Fausto, História do Brasil: também é imprescindível. Ao contrário do História Concisa, este manual é o mais completo, didático e bem direcionado para o conhecimento necessário de HB. Apesar de fazer uma boa cobertura de todos os períodos de HB, o "domingão da faustão" é excelente para o período republicano, nem tanto para o império e a colônia. Deve ser lido quantas vezes forem necessárias, decorado e assimilado em todos os aspectos. Os tópicos de HB não referentes à PEB são baseados em Bóris Fausto, não vai adiantar teimar com a banca depois...
As duas primeiras obras citadas, se bem lidas e assimiladas, podem garantir um TPS seguro em HB. Entretanto, meus caros, como eu não sou o tipo que conta com a sorte, vou indicar umas leiturinhas complementares que podem ajudar consolidar um ou outro aspecto do programa que não tenha ficado claro na leitura das duas bíblias de HB no TPS. Vamos a elas:
Colônia
Charles Boxer, a Idade de Ouro do Brasil: incomparável, aprofunda aspectos fundamentais do período.
Caio Prado Júnior, Formação do Brasil Contenporâneo: nenhuma outra obra apresenta uma visão tão abragente dos temas que envolvem a colônia, embora não se restrinja a tal período.
Na dúvida, é melhor ler três vezes!
Império
Maria Yeda Linhares, História Geral do Brasil: incomparável na abrangência, detalhamento e didática na análise do período. Aborda diversos aspectos que passam batidos em Bóris Fausto.
História da Política Externa Brasileira
Paulo Vizentini, Relações Internacionais do Brasil-46/64 e A Política Exterior dos Governos Militares: sem dúvidas, esses livros contribuem significativamente para sanar muitas dúvidas sobre o período do pós-guerra. Para o TPS, são mais que suficientes.
Agora vamos as tópicos que não podem ser negligenciados no "decoreba" para um bom TPS:
-Revoltas Coloniais e economia da colônia;
-Período Joanino, processo de independência;
-Sistema de tratados do Primeiro Reinado;
-Revoltas na Regência;
-Política de Limites (em todos os períodos);
-Era Vargas (decorar tudo, ou tudo o que conseguir);
-Regimes militares.
A prova de HB do CESPE é bastante factual, o ideal é decorar as cronologias. Mesmo questões interpretativas podem exigir o conhecimento factual e/ou cronológico. A prova de 2007, para ficarmos num exemplo mais próximo, teve muitas questões do tipo. Se o candidato não soubesse que o tratado de 1851 foi com o Peru, não com a Bolívia, perderia uma questão... E muita que perdeu uma questão no TPS dançou...
OBS: há obras que não citei porque não considero imprescindíveis para o TPS e serão debatidas quando chegarmos na discussão sobre a terceira fase. ;-)
Por último, um alerta: não pense que somente porque um ou outro tópico não apareceu nas duas últimas provas ele não aparecerá na próxima. É melhor estar preparado para qualquer questão. Com a disputa pela vaga no TPS cada vez mais acirrada, é sempre melhor nivelar por cima.
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