Antes de tudo, um pequeno esclarecimento:
Debater a preparação para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática-o CACD-provoca polêmicas e, por vezes, induz os debatedores a um certo grau de destempero. O objetivo deste texto, o primeiro de uma série que publicarei semanalmente neste blog, não é polemizar, mas apresentar algumas opiniões e apontamentos resultantes da experiência de preparação.
Não há uma lista de opiniões certas ou erradas sobre o CACD. Todas as opiniões são, em maior ou menor grau, permeadas pela subjetividade de quem as exprime e neste blog não é diferente.
Minhas opiniões, que passo a expor a partir de agora, não são leis da natureza, estão abertas ao debate e ao contraditório.
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É difícil responder a tantas perguntas, pedidos de conselhos e dicas sobre a preparação que tenho recebido desde que fui aprovado no CACD 2007. O risco de fazer uma afirmação taxativa a respeito da preparação, embora eu por vezes as faça, é grande. É possível, entretanto, que os erros cometidos no decorrer da preparação tenham um certo grau de generalidade. Antes de dizer o que fazer, creio que compartilhar o que não fazer e o que pode atrapalhar a preparação é a melhor forma de começar o diálogo.
A partir de agora, apontarei alguns dos principais equívocos que cometi e que percebi que foram cometidos por muitos amigos e companheiros nesta luta que me acompanharam entre 2005 e 2007.
1-ACREDITAR QUE EXISTE UMA RECEITA MÁGICA PARA A APROVAÇÃO: a crença de que existe uma fórmula exata a ser seguida para obter êxito no CACD é o maior equívoco possível. A única forma de aumentar a probabilidade de ser aprovado é estudar muito. É possível que um candidato estude muito e não seja aprovado, assim como é possível que um candidato teoricamente menos preparado seja aprovado, porém somente o estudo disciplinado e contínuo eleva a probabilidade de um bom resultado. Cada candidato precisa encontrar a fórmula de preparação a que melhor se adapte, com a qual obtenha os melhores resultados e o melhor rendimento. Mais do que estudar muito, é preciso estudar certo. Como estudar certo é uma descoberta que cada candidato faz ao longo da sua preparação. Pastiches de métodos alheios só servem naquilo em que o candidato se adapte. Esforço, disciplina, transpiração e sacrifício são as palavras de ordem.
2-NÃO SE ADAPTAR AO FORMATO DA PROVA: o candidato ao CACD precisa estar preparado para qualquer desafio que lhe seja imposto pelo concurso. Embora se possa desejar mudanças no formato que beneficiem um ou outro perfil de candidato, a preparação não pode ser pautada pela expectativa dessa mudança. A maneira mais eficiente de evitar surpresas desagradáveis é estar preparado tanto para provas escritas quanto para provas objetivas em todas as matérias. Se o candidato estiver realmente bem preparado, o formato da prova poderá prejudicá-lo, mas não a ponto de reprová-lo. Estudar todas as matérias ao longo do ano e alcançar o domínio programático em todas elas é o ideal (tarefa dificílima, as dificuldades serão debatidas posteriormente em texto específico). Não é o concurso que deve se adaptar ao candidato, o candidato é que deve se adaptar e estar preparado para qualquer prova.
3-IGNORAR OU NÃO RESPEITAR O VIÉS CONCEITUAL DA BANCA: o CACD conta com uma vasta bibliografia indicada que, de acordo com o guia de estudos, não é restritiva. As bancas de cada etapa, porém, têm um viés conceitual e teórico específico(e academicamente legítimo) que precisa ser percebido e respeitado, principalmente no teste de pré-seleção, no qual atualmente a prova objetiva conta com uma parte considerável de itens de certo e errado. Matérias como história, política internacional e geografia, por exemplo, são abordadas de forma mais interpretativa do que factual. É necessário que o candidato conheça as interpretações que coincidem com as da banca. A bibliografia se contradiz em muitos pontos, mas o gabarito respeita um lógica e um padrão claros, que podem ser percebidos se o candidato analisar com atenção as provas dos últimos anos. Com as provas de inglês e português não é diferente: se a prova de inglês exige preencher lacunas de preposição, estude e exercite, se a prova de português exige interpretação e pontuação, estude e exercite. Não há nenhuma vantagem em contar com a sorte quando a disputa por uma vaga depende de 0,25 pontos. Brigar com a banca e com o viés da prova tende a não produzir bons resultados.
4-DESPREZAR AS LEITURAS OU PROCURAR FAZER APENAS LEITURAS FÁCEIS: é possível que um candidato alcance um bom nível de preparação sem que leia livros inteiros e completos, mas nunca sem um domínio programático de todo o conteúdo. Tal domínio pode ser alcançado com leituras bem orientadas e boas aulas nas matérias específicas. A leitura, entretanto, é insubstituível. Leitura e domínio da bibliografia dão densidade de conteúdo, bem como possibilitam que as várias questões que são "paráfrases" de trechos de obras da bibliografia sejam percebidos claramente. O candidato não deve deixar de ler o máximo possível.
5-SUPERESTIMAR A PRÓPRIA CAPACIDADE EM QUALQUER MATÉRIA: o candidato nunca está completamente preparado em nenhuma matéria. Se não há mais o que estudar, melhor estudar de novo. Se estiver cansado de uma matéria chata, passe a estudar uma matéria que goste, mas não pare de estudar. Na pior das hipóteses, uma matéria servirá de lastro de pontuação na última etapa. O candidato não deve parar de estudar uma matéria porque acha que a domina, muito menos deve abandonar uma matéria porque acha que não consegue evoluir. Trabalhar os pontos fracos é fundamental, fazer a manutenção dos pontos fortes também é. O grau que deve ser dedicado a cada uma das tarefas é subjetivo, somente o candidato e, quem sabe, uma boa orientação docente podem descobrir.
6-ESQUECER OU IGNORAR QUE O CACD TEM 3 ETAPAS: bons resultados no TPS não significam necessariamente bons resultados nas etapas seguintes. O candidato deve se preparar para as três etapas ao longo do ano e, de acordo com a sua estratégia, direcionar a preparação por etapas a partir do lançamento do edital do concurso. Uma maneira de potencializar a o rendimento da preparação é estudar para o TPS como se fosse a terceira fase. A leitura de bibliografia densa e completa, além de contribuir para uma excelente pontuação na etapa objetiva, possibilita que se economize muito tempo de leitura em tais matérias na terceira etapa. O candidato poderá se dedicar com mais afinco a seus pontos fracos e às matérias que não são contempladas no TPS. Também é importante ter em mente que a prova objetiva não reflete o verdadeiro grau de preparação dos candidatos.
7-NÃO ADMITIR OS PRÓPRIOS ERROS, ENCONTRAR CULPADOS PARA O PRÓPRIO FRACASSO: o candidato, antes de tudo, precisa aprender com os seus erros. Antes de culpar a banca, o formato da prova, os "concurseiros", o clima ou qualquer outro fator exógeno, é preciso analisar e perceber quais foram as falhas cometidas na preparação e tentar corrigi-las. Perceber em quais tópicos errou mais, em quais matérias precisa de aprofundamento e em quais pecados incorreu no decorrer da preparação é a única forma de o candidato encurtar o caminho para a aprovação. É possível passar na primeira tentativa, entretanto, a tendência é que o candidato fracasse algumas vezes antes obter a aprovação. Persistência e disciplina são fundamentais para alcançar êxito na longa jornada de preparação para o CACD, mas a capacidade de abdicar da teimosia e de abdicar de persistir nos erros são ainda mais fundamentais. Eu mesmo fracassei por duas vezes, em cada uma delas aprendi com meu erros e hoje estou aprovado. É o que desejo a todos que se esforçam e sonham com a carreira no serviço exterior.
Espero ter contribuído para o início de um bom debate. A partir da semana que vem publicarei textos sobre temas específicos da preparação.
A seção de comentários está aberta à participação de todos.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
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